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segunda-feira, 28 de julho de 2008

Razões para não casar

É pá, pronto, desculpem lá o post anterior. prometo não voltar a armar-me ao pingarelho intelectual outra vez. Vamos lá ajavardar!

Há muitas razões para ainda não estar casado.Por exemplo: não tenho dinheiro. Um casamento custa o mesmo que um carro, e a mim um carro dá-me mais jeito do que encher o cu a labrujas que vejo uma vez por ano e que só iriam aparecer mesmo para me foderam a tábua de qeijos. Por isso quando tiver dinheiro compro um carro, vão comer queijo p'ró c*ralho. Depois, ainda não conheci a "Mrs. Right" que me ature, 7 dias por semana, 30 dias por mês, 12 meses por ano, até ao resto da minha vida... Ou até um ou outro perceber que "aquilo" com que acorda no dia seguinte afinal é uma outra cena qualquer e o que quer é voltar para a casa da mamã. Ou por outra razão qualuqer.

Descobri há dias, numa epifânia futurulogista, que há ainda uma razão obscura, escondida dos horizontes adivinhatórios dos mais incautos dos casais.

Ainda estou na casa baixa dos trintas, por isso a perspectiva de sexo com fartura ainda ocupa e vicia o horizonte do casamento. Eu como homem não tenho problemas de líbido. No dia que o não conseguir levantar, vai Viagra. Uma vez perguntaram-me como me imaginaria aos 50 anos. Resposta imediata: Bêbedo, gordo, careca e a Viagra. Uma espécie de Charles Bukowsky tuga. Aí está algo a almejar. Ora o Charles Bukowsky nunca casou. era um poeta que ganhava a vida a poetizar e tudo o que é crica de todas as cores e idades lhe passou pelas beiças. Estrela da literatura alternativa como era nunca teve que imaginar como seria a sua vida monogâmica. Senão teria de contemplar o seguinte:

Ao fim de dez anos de tédio do casamento, se a mulher engordou e fartou-se da vida, mas nós, vá-se lá saber porque razão sádica de cupido, ainda gostamos dela o suficiente para a aturar, digamos que há a possibilidade das vida sexual não ser a mesma que era quando se entrou com o tesão todo na vida conjugal.

Isto porque se ao homem lhe basta conseguir levantar o mastro e ter um par de mamas, a mulher entra numa onda depressiva se por alguma razão não se consegue excitar...

Uma pausa. Antes que comece para aí o mulherio com a observação labrega de "ah e tal se fizesses o teu trabalho" Pára. Não é isso de que estou a falar. Estou a falar de quando se chega à noite e se tem o sequinte diálogo, quando a mulher, farta de trabalhar,. farta da vida, dos filhos e do marido está deitada com a cabeça cheia de comprimidos.

-Bébé, vamos dar uma?"
-Ai não que não me apetece, diverte-te tu.
- Então, sexo oral...
- Ai tou cheia de aftas...
-Então, dá-me o cuzinho...
- Tenho as hemerróidas inchadas...
-Chiça, o teu cu é como o dinheiro, uma merda que se tem mas não se dá...Então ao menos deixa-me fazer-te sexo oral a ti...
- Aiii, dói-me a verruga...
-F*-da-se... Olha, tenho aqui um gel, toca-me tu ao bicho que ando há 4 semanas nisto e já tou farto
-Ai, tenho as articulaões doridas de enfiar cabos em autoradios..
-(Ou de tocares ao bicho ao patrão...)
And so on, and so on

Ora a epifânia que se me deu teve a forma de um futuro, onde se tem um barco em casa e não se pode navegar.

Ora quando se é solteiro e se anda pelo país a "espalhar a semente" dificilmente se vislubram futuros assim. Quando nos apaixonamos por alguém muito menos. Mas o síndrome do PDI toca a todos.


O que vale é que a epifânia depressa passou e a ilusão de um futuro de casado como uma aventura sexual constante voltou a toldar-me as previsões.

Bem hajam...

sábado, 26 de julho de 2008

A CHAMADA DEPRESSÃO CRÓNICA DOS PORTUGUESES: Um pequeno ensaio sobre a saudade, o fado e o blues



( Hoje é um blog longo, mais académico e conceptual. Se quiserem perder tempo a lê-lo até ao fim, sejam bem vindos, se não estiverem para aturar-me os devaneios filosóficos pretensiosos, compreendo perfeitamente... ;P )

Volta e meia vêm a público, em variados noticiários, uma série de reportagens sobre a suposta onda de depressão que o português está a sofrer e que tudo isso tem a ver com o desemprego, com os processos judiciais intermináveis, com o preço dos combustíveis, com o Benfica não ganhar o campeonato, com a inflação... Depois é o costume, o jornalista vai para a rua a fazer as perguntas imbecis da praxe, do género, "Sente-se deprimido?" "Acha que temos razões para esta depressão?" E a vítima, normalmente a selecção das edições dos telejornais escolhem sempre o prototipo do português entrevistado que é alguém de meia idade, de classe média, de estatura média, com cultura geral média ( que no caso do português é saber ler e assinar o nome ), lá responde, fazendo ao máximo para esconder o tumulto que lhe vai pela cabeça, causado pelo adultério do conjuge e o emprego precário na fábrica à beira da falência, lá encolhe os ombros com um sorriso amarelo e responde que sim, que normalemente todos respondem e dá para tudo. Depois as reportagens são decoradas com o chantili da cartilha dos sociólogos, antropólogos e psicólogos que despejam ccom a lenga lenga a justificações batidas das conjunturas sociais, quotidianas, familiares e outras que tais e ficamos todos muito mais esclarecidos.
Ou então não.
O facto de estarmos de facto numa conjuntura, para não nos afastarmos da cartilha, menos positiva no país isso não implica que estejamos todos mais deprimidos. O condição essencial e arqutípica do português é este estado, não depressivo que o epíteto é talvez demasiado clínico, mas melancólico. Se quiserem de uma melancolia que pode atingir por vezes contornos patólógicos em alguns picos cronológicos mas que não depende de conjunturas e sim da condição natural de ser português. Mesmo se fôssemos o país mais rico do mundo, se tivéssemos a sociedade limpa de corrupção e criminosos não conseguiríamos libertarmo-nos daquele sentimento que nos faz comichão diariamente na alma. Por outro lado não nos reduziríamos à má fé dos povos do norte onde são de facto ricos e têm tudo o que se poderia desejar e acabam por se matar aos magotes porque não aguentam o tédio e o vazio. O português alimenta-se de tédio e de vazio, porque a notificação do tédio e de vazio que nos caracteriza é uma notificação negativa, ou seja, é um vazio que é acompanhado de uma co-apresentação de esperança. O seu melhor exemplo é a noção de saudade, que erróneamente é considerada uma palavra exclusivamente portuguesa pois há étimos equivalentes no castelhano, no galego, no romeno e mesmo no alemão, mas cujo sentimento, a forma como sentimos, como sabemos o que significa o étimo, é exclusivamente português. É que embora os nossos vizinhos mais próximos, os romenos e os germânicos tenham uma palavra que se pode aproximar ou etimologicamente ou na raíz da sua significação à saudade portuguesa, o que está em causa na sua tradução existêncial quotidiana não é de todo equivalente.

Saudade, fado e blues
Reflexo disso, e esse reflexo teria que ser projectado inevitavelmente numa forma de arte, é o nosso género musical nacional, o fado. Não há, no meu parco conhecimento da cultura internacional, se houver façam o favor de me informar, nenhuma forma de arte onde o único motor criativo seja o sentimento de perda. Nem o blues, e e escolho aqui o blues pois será aquele que mais me vem à ideia no que se trata de cantar as desgraças e cuja estrutura lirica e harmónica é, aparentemente, equivalente ao do fado, que apenas trata de situações esporádicas de tristeza, onde o fado é a própria tradução da perspectiva católica ( do grego catholos, universal, que quero afastar-me o mais possível das referências religiosas ) da condição de perda irreparável.
Senão vejamos. O blues usa uma estrutura básica de acordes a acompanhar letras simples que tratam de pequenas estórias de abandonos, de traições ou de pequenos desaires monetários pessoais que essencialmente retratam um ambiente decadente cujo autor foi protagonista, cuja vivência o faz sofrer e do qual se quer libertar, como podemos ver aqui nesta letra de uma das divas do jazz/blues dos anos 30, Billie Holliday:

BILLIE's BLUES
Lord, I love my man, tell the world I do,
I love my man, tell the world I do;
But when he mistreats me, makes me feel so blue.

My man wouldn't give me no breakfast, wouldn't give me no dinner,
Squawked about my supper and he put me outdoors,
Had the nerve to lay a match-box on my clothes,
I didn't have so many, but I had a long, long ways to go!

Some men like me 'cause I'm happy, some 'cause I'm snappy,
Some call me honey, others think I've got money,
Some tell me, "Baby, you're built for speed,"
Now, if you put that all together, makes me everything a good man needs!

Billie Holyday

A causa da desgraça é simples, um desgosto amoroso e a noção do objecto que é para os homens. É decerto razão para uma perspectiva deprimida da vida mas dada a natureza da contingência da situação, embora seja algo com que nós, de vez em quando nos identificamos, não é algom que reconheçamos como condição essencial de todos nós. Nem algo que queiramos viver. O blues é uma espécie de expiação de pequenos fantasmas e pequenos pecados. O blues tem um espirito cool que responde às vicissitudes contingentes da vida com o contingente sorriso de uma malha em Ré em 12 compassos.
Em alternativa comparativa podemos ver a diferença neste fado da nossa própria diva, Amália Rodrigues e cujo conteúdo ultrapassa a simples contingência acima descrita:

QUE DEUS ME PERDOE
Letra: Silva Tavares
Musica: Frederico Valério



Se a minha alma fechada
Se pudesse mostrar,
E o que eu sofro calada
Se pudesse contar,
Toda a gente veria
Quanto sou desgraçada
Quanto finjo alegria
Quanto choro a cantar...

Que Deus me perdoe
Se é crime ou pecado
Mas eu sou assim
E fugindo ao fado,
Fugia de mim.
Cantando dou brado
E nada me dói
Se é pois um pecado
Ter amor ao fado
Que Deus me perdoe.


Quanto canto não penso
No que a vida é de má,
Nem sequer me pertenço,
Nem o mal se me dá.
Chego a querer a verdade
E a sonhar - sonho imenso -
Que tudo é felicidade
E tristeza não há.

Amália Rodrigues

A assunção da própria condição, de cujo o fado é uma fuga consciente, tão consciente que o próprio fado cantado é sobre essa condição, não se reduz a um acontecimento que tanto poderia ter acontecido como não mas que é reflexo de um sentimento que se sente, passe o pleonasmo, necessariamente em todos os que o ouvem. A frase "Fugindo do fado fugia de mim" é a descrição mais perfeita o sentimento português de destino certo, de um destino que não se pode evitar, um destino que é acompanhado pela noção de saudade que mais não é que a consciencia, dada numa co-apresentação com o vazio do quotidiano, que a felicidade ficou lá atrás e que dela temos apenas o caminho, nem que esse caminho só leve à inevitabilidade do fim que a todos nos é destinado. Esse tal sentimento que as instituições vulgam em chamar depressão não é mais do que a condição de ser português.
A depressão de que falam existe só e apenas porque é fabricada por um quotidiano artificialmente afastado dessa consciência. Um quotidiano cuja desgraça é rapidamente desviada para soluções imediatas e fáceis que vão da mais básica telenovela até ao institucional Prozac. Logo, não admira que nos telejornais apareçam agora essas reportagens em modo de alarme que o português anda deprimido. Somos subrepticiamente conduzidos para um suposto alívio que nos é filantropicamente oferecido pelas televisões e pela industria do entretenimento. Somos bombardeados com horas e horas de processo casa pia para depois, logo a seguir, termos mais um episódio das novelas da TVI, em jeito de analgésico para a alma. As imagens de acidentes, doenças e miséria são intercaladas com anúncios a concertos no Emanuel e seu rebento Mikael (Mikael??? foda-se...) no coliseu e com imagens da loiríssima e cor-de-rosíssima Margarida Rebelo Pinto a anúnciar o seu último romence-pop. Todo este processo é perfeitamente natural e justificado com pretensões de serviço público pelos seus promotores com a velha desculpa de sempre. "As pessoas chegam a casa e depois de verem as desgraças só se querem é distraír. Nós damos o que as pessoas querem ver" Finalmente são as próprias reportagens sobre a depressão que dão a ideia uqe a única solução possível a a ida ao farmacêutico de serviço à procura do genérico de anti-depressivos mais barato.
Em última análise a suposta depressão que assola o Portugal de hoje é fruto de uma espécie de círculo vicioso de causa-efeito do qual não nos conseguímos libertar porque passámos de um "Fugindo ao Fado, fugia de mim" para uma fuga que se desenha nos contornos quotidianos do "Desgraça, depressão, cura" seja ela uma novela, um jogo de futebol ou uma dose de fluoxetina.

Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado
mas é isso que nós somos.

Bem hajam

sábado, 19 de julho de 2008

Glândulas lácteas (mais um post sobre mamas)

Ando pelo mundo virtual dos sites de social networking há cerca de 3 anos e ainda não aprendi.

Muitos desses sites têm um blog embutido onde partilho lá o que escrevo aqui e vice versa.

Num desses sites, o Netlog, existe uma ferramenta de destaque onde os utilizadores colocam em destaque os seus items, seja um a foto nova ou um blogue, o que leva a uma interactividade mais profícua, fazendo com que o público leitor, embora fechado num círculo mais restritoo do site, seja mais abrangente do que aqui, pois consigo ter leitores mais imediatos.

Nesses blogues, de cada vez que tento lançar à discussão algo de edificante, cultural, pedagógico, que fomente a saudável troca de experiências de melomania, leitura, cinefilia ou artes em geral, tenho um, dois comentários, pouco mais e metade deles não interessam ao menino Jesus, de idiotas, fracas tentativas de fazer piada ou banalidades que são.

Por outro lado, se me armo em terrorista ontológico, espeto uma faquinha nas costas incautas d@s labreg@s, tento desconstruir um pressuposto ou simplesmento falo mal de algo ou escrevo "Mamas" ou "F*da-se", não me largam o cu durante 3 dias seguidos, lançam-me vitupérios odiosos, bloqueiam-me o perfil. Por isso, resolvi picar o putedo exibicionista com este post.

Há uma coisa que me faz impressão. Não consigo perceber a estrutura mental do acto de uma gaja colocar em destaque uma foto dela em sutiã a mostrar as costas quase desnudadas ou então uma foto em cuecas e saltos altos. E todos os dias no destaque aparece uma foto assim.

O que se pretende? Posar para concorrer ao próximo lugar de modelo de lingerie da Victoria's secret? Estão à espera qe por aqui passe algum booker que as leve para Londres?

Reality check: Com essas banhas não passas da mata de Monsanto!!!

Adiante:

Essas meninas (que algumas exibem de facto belos exemplares dos apêndices lácteos), então, se metem a foto em destaque é para ser vista, muitas vezes para ser vista apenas por homens, pois bloqueiam o perfil a mulheres. Por outro lado, se abrem a foto para comentários, então, de que tipo de comentários estão à espera? Os comentários dos labregos daqui roçam abaixo da banalidade tediosa:

"És linda", "Deixasme sem folego", etc, ou então aqueles poemas em brasileiro tirados dos sites de layouts do myspace.

Ora eu não comento poque a única coisa que me apraz dizer a um decote propositadamente exagerado ou a uma foto com um sutiã generosamente preenchido é um simples

"Granda par de mamas c*aralho, essa m*rda é toda tua??".

Mas como as meninas que começam por despudoradamente a exibir os seus (únicos) trunfos, de repente são umas Virgens Marias que normalmente, a acompanhar as fotos dos perfis, colocam pérolas do género "Detesto falsidades" "Gostoi de homens sérios e inteligentes" (convém é que não sejam mais inteligentes do que elas) "Não estou aqui para o engate". etc, etc. de repente ofendem-se com a honestidade.

Ora, nem sequer tento encetar nenhum tipo de conversação nessasa fotos porque o bloqueio era destino certo e eu quero continuar a apreciar silenciosamente os magníficos exemplares que aqui se exibem. No entanto aqui ficaria um diálogo imaginário com um desses par de mamas:

Eu:
"Grandas mamas, essa merda é para provocar? e depois puxava para o lado macho alfa e rematava com um anmimalesco "arrancava-te o sutiã e fazia-te suar pelas curvinhas abaixo"
Ao que ela responderia:
"Os homens são todos umas bestas"
Eu:
"Então se quiseres podemos ter uma conversa acerca do pós modernismo literário na alemanha de leste contigo só de sutiã transparente, mas como não deves conseguir articular um verbo com um complemento directo sem assassinar a sintaxe, lá teremos de voltar á conversa do suor..
Não?
e a seguir era bloqueado.

No dia em que uma gaja me disser:

"Sim, tenho um par de mamas magnífico e venho para aqui assumidamente exibi-lo e podes ficar para aí a babar-te à vontade" então e agradeço e ficarei a pensar:

"Eis uma gaja com tomates" em todos os sentidos.

Bem hajam.

P.S. O post original e respectivos comentários estão aqui: http://pt.facebox.com/spiegelman/blog/blogid=1384573

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Melomania

A entrada de dicionário para esta expressão tipifica o seguinte:

melomania | s. f.

do Gr. mélos, melodia + manía, loucura

s. f., paixão pela música.


Ora posso afirmar sem reservas que esta semana tive dos meus dias mais profícuos enquanto melómano, adorador, consumidor, ouvinte, apaixonado, louco pela música. Em 16 anos de concertos, festivais e afins asseguro que nunca tive tantos concertos proveitosos como nestes últimos dias. A todos os que comigo partilharam o recintos dos festivais SuperBock SuperRock e Alive 08 saberão do que falo

48 horas sempre a abrir de música intensa, concertos poderosos e intimistas que deixam o corpo cansado e a alma limpa. Nenhum deles foi o concerto da minha vida (esse fica reservado para o longínquo ano de 1993 com mais 60.000 almas no estádio José de Alvalade na tour europeia do Black Album de Metallica), mas no conjunto fazem os melhores 5 concertos a que já assisti em menos tempo.

A alma metálica e a sua irmandade inseparável encheu-se com o pedal duplo de Dave Lombardo que me deu o miminho fofo de encerrar a sua actuação demolidora com

ANGEL OF DEATH de SLAYER:

apenas meia hora depois cumpri a longa promessa de ver finalmente os Iron Maiden com Bruce Dickinson e Adrian Smith. Mijei as cuequinhas de felicidade com uma das minhas músicas favoritas de sempre: MOONCHILD de IRON MAIDEN:


Não tinham passado 24 horas e o sensual bigode alucinado de Eugene Hütz fazia estragos no palco do Alive '08 em Algés com os seus GOGOL BORDELLO:


E para terminar o regresso de RAGE AGAINST THE MACHINE após 14 anos a terra lusitasnas, Tom MOrello e Zack de La Rocha de novo Juntos em Palco a mandar foder os que nos mandam fazer coisas que não queremos:

FUCK YOU I WON'T DO WHAT YOU TELL ME!!!


Finalmente, já em casa, ao acordar e para descomprimir, em directo do mesmo sítio onde tinha andado ao ssaltos na noite anterior, estava JHON BUTTLER TRIO a dar um magnífico concerto...



6 magnificos concertos que ainda me correm no sangue

Obrigado a todos os que comigo os partilharam

terça-feira, 8 de julho de 2008

URBAN LEGENDS - Os Grandes Mitos Nacionais: D. Sebastião

D. Sebastião é de certeza o grande mito português. É o mito da salvação lusitana, o nosso Jesus Cristo privativo, aquele que morreu pela nossa pátria a defender a cristandade. Logo, é muito mais do que um mito urbano, é um mito nacional.

No entanto basta olhar para o mapa da densidade populacional de de Portugal e ver que metade da população vive nas áreas metropolitanas do grande Porto e da grande Lisboa e a outra metade se distribui dois terços por Braga, Coimbra, Aveiro, Setúbal e Algarve sendo que o último terço é que resiste estoicamente num interior rural envelhecido, esquecido e desertificado. Conseguimos perceber então que, juntamente com as pessoas que o carregam no imaginário, o mito de D. Sebastião é, estatisticamente, um mito urbano. Chegado o Outono, a época das chuvas, das depressões, das melancolias regressa ao nosso subconsciente de Português, no sentido mais pessoano do adjectivo, o secreto desejo de, numa manhã de nevoeiro, aparecer envolto em bruma a figura de D. Sebastião montada no seu cavalo branco, de regresso da batalha de Alcácer Quibir e trazendo consigo a boa nova do Quinto Império e a glória a um povo que já soube o que foi governar metade do mundo e agora está refém de ministros "jamais" (com pronúncia francesa) e primeiros ministros que compram licenciaturas a. troco de casas de emigras em Mafamude (ou o c*ralho que o f*da)..

Ou então não.

Muitas vezes esquecemos, enebriados pela magia do mito e de todo o mistério e poesia que a ideia do retorno de um glorioso rei antigo acarreta, que D. Sebastião era um puto ruivo de 14 anos com metro e meio de altura e com uma deficiência no lábio quando foi coroado rei à pressa porque o pai morreu-lhe quando nasceu.
Em segundo lugar, esquecemo-nos de indagar, se D. Sebastião voltasse hoje, onde apareceria?

Tendo em conta que foi para África numa senda tresloucada anti-islâmica, imaginemos que D. Sebastião aparecia numa manhã de nevoeiro ali para os lados do Martim Moniz. De repente, vindo do nada, aparecia um gajo de armadura a cavalo com uma espada na mão a berrar "Venham cá, filhos da puta que vos acabo com a raça infiel!!" e desatava a varrer à espadeirada todos os indianos, muçulmanos e demais africanos que param pela conhecida praça lisboeta.

Talvez consiga imaginar um monhé a aproximar-se de D. Sebastião com um ramo de rosas e um molho de Pikachús a piscar: "Olá... Quér frô?", ao que D. Sebastião responderia com um pronto golpe de espada e arrancava a cabeça ao pobre Rashid, acabando a cena como está exposta na Catedral de Santiago de Compostela, na Galiza, onde uma escultura retrata S. Tiago em pose triunfal no seu caval a espezinhar corpos retalhados de muçulmanos.

E depois era uma chatice, tinha que vir o Serviço de Intervenção Rápida da PSP, a Judiciária, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras ( Sim, para além de D. Sebastião que entrou ilegal com um cavalo no país ainda temos que fazer um levantamento dos mortos para saber quantos estavam legalizados ) e levar o D. Sebastião para a esquadra - isso é lá maneira de tratar um salvador da pátria - onde, se não o confundissem com um filho há muito perdido do Jorge Sampaio, decerto seria recrutado pela CIA para ser mandado para o Afeganistão achar o Bin Laden.

Resta-nos fazer como os Judeus e ir batendo com a cabeça nas paredes do nosso muro das lamentações ( para a maioria de nós é o Novo Estádio da Luz ) à espera que apareça para aí um novo messias, dos que não retalhem pessoas ou que não convoquem Luís Filipe para lateral direito.

Bem hajam...

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Mitos Urbanos: Betos e friques

Na senda do meu blogue anterior acerca da betaria que se clonava numa estação de metro, aqui recupero um conceito meu, das profundezas dos meus arquivos:

URBAN LEGENDS: Os clichés, parte I:

As lendas urbanas que que aqui denomino são as sub-culturas e os rótulos em que a sociedade portuguesa se divide.

Eis os que, por serem considerados um arquétipo normativo, se enquadram no conceito de verdadeiras lendas urbanas.

O Beto:
O beto é uma denominação que foi criada no princípio dos anos 90 aquando do boom da marca benetton para denominar os que a vestiam. Eram os chamados meninos bonitos, limpinhos e correctos que pululavam amiudemente pelas escolas secundárias das cidades e sub-urbes. Depressa se generalizou ultrapassando a marca única quando o beto foi para a universidade. A denominação beto foi sendo substituida por Menino da Linha ou Menino da Católica pois começou-se a notar um aumento da espécie na linha de Cascais e na Universidade Católica. Os estudos são inconclusivos ao tentarem decidir se não é a própria universidade que os cria. Os betos quase que atinjem o estatuto de lenda pela sua capacidade de se clonarem a si próprios. Não há um beto diferente um do doutro. É vê-los na paragem em frente à Universidade Católica com as camisas Ralph Lauren, os cabelos semi-compridos aloirados e os polos Burberrys e as gajas com as madeixas loiras e argolas enormes nas orelhas. Uma investigação secreta em curso tenta descobrir se qualquer anomalia física, química ou metafísica ao redor da Universidade Católica faz com que hajam alterações genéticas ao nível dos seus alunos para que se pareçam todos com os putos daquele filme do John Carpenter, "A Cidade dos Malditos". Quando digo que o beto quase que atinje o estatuto de lenda urbana é porque o seu status estético-moral de direita conservadora depressa se esvanece quando a beta se apaixona por um cabo-verdeano de rasta com 1m95cm e uma picha de 25 cm e a a enraba, conservadoramente, enquanto lhe agarra pelas argolas e o beto vai de erasmos para a Holanda onde encontra uma frique alemã com pêlos nos sovacos, uma tatuagem do Che Guevara na mama esquerda e sandálias de cabedal que lhe faz um broche enquanto sopra o fumo de uma White Widow acabada de fumar para os colhões. O beto normalmente morre com os cornos cheios de coca e com o Z8 do papá enfiado num poste na marginal em Carcavelos.

Falando em friques: O Frique:
O frique ( aportuguesamento livre de freak ) elevou-se ao estatuto de lenda urbana pela capacidade única que tem em não se lavar. O frique generalizou-se pela rua. É normalmente um beto arrependido cheio da pasta que se zanga com os papás e vai à procura do sentido da vida para as estações de metro. Há uns friques que conseguem ir para a universidade e quando assim é as academias do nosso país enchem-se de pulgas. Isto porque um frique não é frique sem um rafeiro com sarna atrás. Mais uma prova de amor aos animais a juntar ao facto de serem todos vegetarianos. De tal modo que, há estudos que indicam, embora não confirmem, que as mulheres friques abdicaram de todo o tipo de chouriço, incluindo o chouriço do companheiro, e que deixam entrever que a familiaridade com os cães ultrapassa a simples interactividade Homem-animal e que as línguas dos bichos possam servir para mais do que lamber as próprias feridas. O estatuto de lenda confirma-se pelo facto de num círculo de friques ( dos verdadeiros friques ) não se aproximar mais ninguém, ou então é do cheiro... Finalmente um dos maiores mistérios é a questão de ainda não se terem encontrado cadáveres de friques. Acredita-se que vão todos morrer ao mesmo sítio. Por outro lado especula-se que o desaparecimento dos friques a partir de uma certa altura esteja ligado ao aparecimento de novos gestores, economistas e advogados neo-conservadores que estão a dominar a economia mundial. Personagens das quais antes não havia nenhum vestígio...

Próxima lenda urbana... Dom Sebastião...

terça-feira, 1 de julho de 2008

O Medo

(Para não vos deixar sem ler, recupero um dos momentos mais altos do meu arquivo de blogger. Este tem 5 anos e é o meu favorito)

É assim meus amigos. Há 27 anos que vivo neste cu de Judas a que chamam Margem Sul. O antro mais eclético que, numa curva que vai do fétido ao divino, podemos encontrar em Portugal. A Margem Sul é a sub-urbe por excelência. De tal sorte que se tornou mais do que uma sub-urbe, tornou-se a Margem Sul. Nasci no buraco mais poluído que se pode encontrar na cinta industrial nacional. No Barreiro, ladeado pela Quimigal e pela Siderurgia Nacional, vim ao mundo entre uma nuvem de pesticida e outra de faúlhas de limalha de ferro fundido que se soltavam dos altos fornos de Paio Pires. Não fiquei lá por muito tempo e o meu cú veio parar directamente à Amora.

Uma rápida viagem do refúgio de alentejanos perdidos do pós 25 de Abril até à última colónia genética de Fenícios comerciantes, que fariam corar de vergonha qualquer judeu, fez que o meu coiro voasse de um Barreiro industrial para um Seixal pescador onde o sangue fenício perdia a luta pela sobrevivência face a uma nova colonização pelo Império Romano que era agora perpetrada pelos genes remanescentes em alentejanos vindos das terras de Miróbriga, um pouco mais a sul em Santiago do Cacém. Alentejanos esses que, incluindo a minha família, aportavam agora na pacífica vila de Amora.

Considerando-me um orgulhoso descendente do último posto romano da Peninsula Ibérica sentia-me na obrigação de zelar para que uma pax romana se instalasse a sul do Tejo. Com as colónias fenícias arredadas para um pequeno número de resistentes insuspeitos a tarefa adivinhava-se fácil. Mas na margem sul não paravam só alentejanos perdidos. Na mesma altura e no pós 25 de Abril começaram a chegar à Margem Sul ex-colonos, pretos, ciganos e um ou outro bárbaro do norte. A luta pela supremacia na Margem Sul revelar-se-ia mais difícil que o previsto. Embora os alentejanos fossem em número superior era nas ruas que a batalha se travava. Não raras as vezes que na minha infância me descobri à porrada com pretos, ciganos e outros descendentes de alentejanos.

Já fugi de magotes de pretos, já me esquivei de famílias de ciganos e aprendi a afugentar o medo o suficiente para que ele não me dominasse. Mesmo quando depois a meio da década de 80 outro problema assustador dominou a Amora, o da droga, com muitos toxicodependentes a tomarem de assalto algumas zonas, aprendi a não ter medo das seringas, a não ter medo dos caronchos, farrapos humanos inofensívos que mais tarde ou mais cedo quinavam de overdose. Nestes anos todos de Margem Sul aprendi a não ter medo. Aprendi a não ter medo da poluição, dos pretos nem dos ciganos nem dos assaltos nem dos tiroteios nem da droga. E em 27 anos de vida nunca tive medo, até ontem.

Ontem provei o medo meus amigos. Provei o medo como nunca imaginaria que pudesse provar. À meia noite e meia dentro do metro da linha azul para a Baixa-Chiado eu conheci o medo. Entrei insuspeito para a carruagem do metro com os phones nos ouvidos, pois evito ao máximo ouvir as conversas das pessoas, e encostei-me à porta em pé. Num relance de curiosidade pela carruagem quase vazia quis ver quem ali ia àquela hora. Vejo um sorriso branco, enorme, desmesurado, com uns dentes antinaturalmente brancos, e uma cara lavadinha, quase imberbe, que se fazia acompanhar de um riso sinistro. Tremi um pouco e ao olhar com mais atenção choquei de frente com o horror... Era um beto!!!

Não havia que enganar. Tinha um polo às riscas da Burberry's, umas calças de ganga euns sapatos castanhos de vela!!! Meu Deus, onde me vim meter? O cabelo semi comprido a cair sobre os olhos dava o golpe final. Mas o medo só despertou quando vi que não era só um... Nem dois, eram quatro!!! Todos de igual, todos de polo às riscas, todos com o cabelo sobre os olhos, todos de óculos quadrados apaneleirados. Todos... Excepto um que não tinha óculos nem o cabelo semi-comprido, imagino que fosse um acólito ou um aprendiz. Notei que o polo era só azul mas estava também a rir como os outros, daquela maneira comedida, educada, limpimha. E aí tive medo. Começei-me a sentir hipnotizado e quando já estava prestes a dirigir-me a eles com a frase "Oiça lá Bernardo, adoro o seu polo, onde o comprou?", e notava o meu cabelo a ficar mais curto e a cair-me para os olhos e os meus sapatos a transformarem-se nuns de vela olhei para o fundo da carruagem e vi um preto... Um preto e uma preta...."Estou salvo!!!" pensei. Mas, horror dos horrores, ao pé da preta estava mais um, mais dois, que responderam com um virar de cabeça ao riso educado dos outros quatro. Seis, eram seis de polo às riscas, sapatos vela, cabelo a cair para os olhos eóculos apaneleirados. "Eles clonam-se, clonam-se expontaneamente!!! Vamos todos morrer, ou sofrer alterações genéticas..." Mas a salvação chegou finalmente quando cheguei à Baixa Chiado e virei para o Cais do Sodré e eles foram para a linha Verde, de certeza para a Av. de Roma. Lá consegui acalmar quando cheguei ao barco e lá estava um magote de pretos a roubar umas míudas, um bando de heavy-mecas gadelhudos a curtir a bebedeira e dois agarraditos a coçarem a ressaca junto às portas de saída.
"Em casa finalmente..."

Bem hajam....