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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Estou-me, normalmente, a cagar para a Margarida Rebelo Pinto. Mas hoje...

Estou.me a cagar para a Margarida Rebelo Pinto.

Esclarecido este ponto, escrevo sobre ela porque, num assomo da lucidez que me ajuda a levantar todos os dias e a vir trabalhar, percebi que, quando um galho seco solitário e mal fodido vem à televisão mandar bitaites, ele é ouvida por milhares, que, distraídos nas suas vidas quotidianas, não diferentes da minha, podem até levar a sério o que o galho seco diz.

O galho seco normalmente diz parvoíces. Não é novidade. E as parvoíces do galho seco não me fazem grande mossa, assim como o barulho de um escaravelho a rebolar uma bola de estrume me faz mossa. Portanto, as discorrências do galho seco sobre a existência, os romances, as badochas ou a política nacional, são-me proporcionalmente relevantes quanto o ruído de uma mosca a sorver com o seu probóscide a superfície de uma feze o é.

Como já deu para perceber, a minha atenção ao que o galho seco diz não dá para muito mais do que um ou dois parágrafos de escatologia entomológica.

No entanto, a distraída audição da idiotice da semana do galho seco, que não é nem mais nem menos idiota que as outras idiotices habituais, apanhou-me hoje num contexto diferente.

Quando, na circunstãncia do meu trabalho, tenho homens, cuja vida foi destruída pelo duvidoso dever pátrio da Guerra Colonial, a confessarem-me as tentativas de sucídio ou os horrores que foram levados a cometer numa mata qualquer na Guiné, ao mesmo tempo que estou a paginar um pedido de ajuda de géneros para as famílias desses homens que estão a passar fome, as barbaridades do galho seco fazem-me uma impressão ligeiramente mais incomodativa.

Se hoje de manhã estes homens estão aqui a confessarem as dores à laia de desabafo em vez de estarem a atirar.-se do sétimo andar ou a espancar a mulher porque pensam que ela é um turra, é porque houve alguém, um dia,que fez barulho, que incomodou governos, que reivindicou direitos, que gritou e impediu outros cidadãos de irem trabalhar e essas exigências deram frutos. Hoje têm legislação que os reconhece e associações que os protegem. Não é perfeito e muitas dessas conquistas estão de novo em causa, o que leva a que não se calem, não se fiquem, e continuem a lutar por aquilo a que têm direito.

Este é um dos princípios básicos da democracia.

Mas para o galho seco nada disso é importante.O importante é não incomodar o governo. Aliás, quem incomoda o governo não tem inteligência, tem falta de civismo e sente repulsa e pena de quem se manifesta.

Duvido que Margarida Rebelo Pinto tenha alguma vez sentido repulsa a sério.

Repulsa sente-se quando um oficial superir ordena que se mate uma criança porque está a chorar e pode revelar a posição ao inimigo. Repulsa sente-se quando o unimog onde segue vai pelos ares porque um qualquer traidor do quartel colocou uma mina e matou metade do pelotão. Repulsa sentem estes homens que viram as suas vidas destruidas e agora não conseguem ser ressarcidos por causa de burocracias e tergiversações dos governos que Margarida Rebelo Pinto sente pena por serem incomodados.

Como escrevi, com excepção das condicionantes de hoje aqui descritas, a MRP não me faz mossa alguma. 

Não chega a ser uma "that bitch i love to hate". Não tem alcance intelectual para tal. Nessa categoria coube em tempos o Luís Delgado e hoje em dia o Henrique Raposo.

Mentes venenosas que, embora intelectu
almente desonestas, servem a propaganda de uma agenda política que está nos antípodas do que defendo e quero que continuem a escrever para serem alvo do meu ódio de estimação. É gente que, um dia que se formasse uma República Bolchevique Lusitana, estariam na fila da frente para serem abatidos a tiro na nuca pelo comité revolucionário na Praça do Comércio e estaria lá para premir o gatilho.
 

A MRP não faz parte desse lote.

A MRP é um epifenómeno pop que mal ocupa o papel de putinha do regime, como por exemplo faz tão bem uma Anne Coulter com os Republicanos. A MRP queria ser a putinha do regime só que ninguém lhe liga, muito menos o regime.


Como não quero entrar no insulto gratuito, aqui termino a minha crónica de hoje e volto à minha escatologia habitual relativamente ao galho seco.

Bem hajam.