Páginas

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Paga impostos e cala-te c*ralho!

Portugal tem a sua quota parte de velhinhos taralhocos. O que em si não tem nenhum problema. O problema surge quando os velhinhos taralhocos são directores de jornais, presidentes de regiões autónomas, ou, neste caso, um dos 25 mais ricos de Portugal.

Américo Amorim, magnata da cortiça e negócios vários, que ainda há um mês chegou ao topo da lista das 25 maiores fortunas deste rectângulo de calhaus e arbustos à beira atlântico plantado, com a bonita soma de 2.587,2 milhões de euros, "não se considera rico, apenas um trabalhador."

Esta resposta foi dada no contexto dos milionário franceses, e a seguir à sugestão de Warren Buffet, se oferecerem também eles a pagar uma sobretaxa de imposto, de modo a suprimir alguma da desigualdade entre classes.

Américo Amorim disse peremptoriamente ao jornalista do Jornal de Negócios:

"Eu não me considero rico", afirmou Américo Amorim ao Negócios. "Sou trabalhador", contrapôs. E pronto, conversa acabada. Para a matéria em apreço, o cognominado "rei" da cortiça garante que não passa de um simples assalariado."

Ora independentemente da latente hipocrisia, ou não, de Warren Buffett ou do acto de prevenção de culpa e lavar a água do capote dos empresários franceses, o que está em causa nas declarações de Amorim, e até mesmo o modo como as profere em tom definitivo para terminar o assunto, é um sintoma muito português, fruto de um contexto cultural muito específico.

As declarações de Amorim não são mais do que um paternalismo corporativista que o Salazar impôs às elites nas lides com a populaça. E como se pode ver pelo exemplo, está mais forte do que nunca. "Eu sou um um modesto trabalhador..." é o voltar àquela altura em que o importante era trabalhar e calar e não vir com ideias parvas. Amorim acredita piamente que se está onde está é porque trabalha para isso. Está a esquecer-se que não é ele que trabalha. São os seus assalariados. E foi á custa da exploração desses assalariados e de negócios obscuros na cortiça que Amorim hoje é "um mero trabalhador" com uma fortuna de mais de dois mil milhões de euros. Numa república bolchevique lusitana o Amorim era o segundo na fila para o fuzilamento colectivo na Praça do Comércio, logo a seguir ao Luís Delgado...

Amorim não é rico. Pois bem, não vamos perder tempo a debater os limite e a sua aplicação ao conceito de riqueza e de onde e para onde eles se alargam. Comparado com Warren Buffett não será rico, será desenrascado. Mas Amorim não vive nos estados Unidos, vive em Portugal. E se é um mero trabalhador então é igual a nós. E eu, que sou um mero trabalhador vou ver o meu subsídio de Natal cortado a metade. Gostava de ver o subsídio de natal cortado a metade também ao Amorim. 

Por isso Amorim, paga e cala-te c*ralho...