Páginas

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Notícia panisgas do dia

Com a iminente volta da questão do casamento homossexual ao parlamento a Conferência Epsicopal Portuguesa conta armas no combate à rabetice e deixa um recado:

“Os cristãos, seguramente, tomarão as suas conclusões, porque não é fiável quem se mete por estas aventuras, em que a sociedade fica exposta a feridas, que são profundas”,


A Santa Madre Igreja nunca terá ouvido falar nos efeitos benéficos... da vaselina?

Bem hajam

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Argolas e verborreia inane

O Homem social (ou seja, sem ser o Homem em grupos de amigos ou família cujos laços emotivos estão acima de padrões individuais que se repetem, portanto mais heterogéneos) tem a tendência para se reunir automaticamente em grupos de interesses comuns. Seja num sentido mais lato, interesse clubístico "o grupo de adeptos do Benfica", seja num sentido mais estrito. no caso das "tribos urbanas", os metaleiros, góticos, rastafaris, etc.

Estes grupos juntam-se segundo uma comunidade de interesses. A música, um ideal estético, um ideal libertário, o que seja. Normalmente esta união causa uma espécie de necessidade de demarcação estética dos restantes membros da sociedade em geral ou de outros grupos de interesse.

É perfeitamente natural que essa demarcação se dê no impacto imediato do olhar, logo esta individualidade em grupo reflecte-se necessariamente em como determinado grupo de veste.

Os metaleiros vestem de preto, usam cabelo comprido, os Góticos a mesma coisa mas usam rendas e bijuteria, os rastafaris... usam rasta (e fumam ganzas). O pessoal do metal mais extremo ou dos góticos mais empedernidos vestem-se com um rigor mais aprumado e barroco. De uma maneira redutora (que há-de servir de argumento para a tese seguinte), quanto mais metaleiro ou gótico, mais a vestimenta se destaca.

O Metaleiro clássico "Old School" não se coíbe de usar calças apertadas, botas da Reebok e os coletes de ganga com os patches de Sodom, Kreator, Destruction, Motorhead e Iron Maiden por todo o lado que sobra de azul do colete. O metaleiro menos radical limitar-se-á a usar uma T-Shirt de Iced Earth e há muito que cortou o cabelo.

O gótico mais radical usa maquilhagem, camisa de renda, uma loja de bijuteria em cima e a namorada com uma trela ao pescoço (a sério, não estou a brincar), aos mais discretos basta um pequeno pentagrama ao pescoço.

Depois... Há as gajas das argolas.

Nunca percebi que tipo de interesse partilham as gajas das argolas... Mas que existe um padrão que se repete por um grupo de gajas na sociedade, existe.

As gajas das argolas são aquelas gajas que usam argolas gigantescas nas orelhas, daquelas que dá a sensação que falta lá um papagaio. Junta-se a isto o cabelo escuro platinado de loiro (normalmente curto, com madeixas e raízes à mostra) o betume na cara a tapar as borbulhas, as sobrancelhas perfeitas (dá-me a impressão que elas rapam aquela merda depois desenham por cima), bijuteria dourada e vestem-se normalmente de napa branca ou vermelha e botas de matar baratas nos cantos.

Ora se há um padrão estético que se repete, há-de haver um interesse comum que para mim sempre se revelou obscuro (ok, o simples mau gosto é a causa principal mas acho que há mais que isso).

Hoje à noite, à espera do autocarro, estava na paragem uma dessas personagens. Nos 20 minutos que estive à espera conseguiu não se calar um minuto, quase sem respirar, em tom acelerado, na mesma semi-tonalidade esganiçada de quem está absolutamente convicto do que diz...

Do que falava?

Absolutamente NADA. Foram talvez os 20 minutos de discurso mais inane e repetitivo acerca de coisa nenhuma que já ouvi.

O discorrer, mal lexicado e sintaxado, de uma pasmaceira gramatical acerca do mais banal quotidiano, na sua aperfeita execução.

E aí vi... Aquelas argolas enormes, gigantescas, brilhantes, a abanar nas orelhas, ainda com penas de papagaio a esvoaçar à volta...

E seguindo o raciocino apresentado anteriormente, descobri que o tamanho das argolas que as gajas com betume na cara usam é paralelamente proporcional ao tamanho das argolas que penduram nas orelhas...

Bem hajam.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

F*da-se

Hoje de manhã, na rotina diária de sair do comboio, rodeado do ruído de fundo que é a massa amorfa de desconhecidos que me acompanha diariamente na eterna viagem a que estamos fadados pelas obrigações laborais, percebi que o que mantém a sanidade mental do português é tão somente esta inflexão verbal imperativa, sufixada pelo pronome indefenido, muitas vezes tida como certa e insignificante:

"Foda-se..."

Ao chegar à porta de saída da estação de Campolide, no gesto automático de resposta à chuva que caía lá fora, os inúmeros e insuspeitos transeuntes começam a tirar os seus guarda-chuva. Mas reparo que há um que o faz sem antes olhar com um ar enfadado para o céu e, antes de abrir o chapéu para se diluir na chuva quotidiana, deixa soltar um "Foda-se"

O "foda-se" dito por aquele homem é uma espécie de grito de revolta para com a sua situação. Não será um caso em que aquele "foda-se" o ajude a ficar menos molhado, a aturar os colegas de trabalho, a tirar-lhe o par de cornos que a mulher provavelmente lhe anda a pôr ou a evitar os despedimentos em massa na empresa, e que o irão provavelmente afectar. Mas a diferença entre aquele homem e todas as outras pessoas que automaticamente abriram o guarda-chuva sem pestanejar é que provavelmente, no limiar que o separa entre o último reduto que o liga a casa (linha do comboio) e a escravidão a que está votado diariamente (percurso para o trabalho), aquele "foda-se" é um último reduto de sanidade mental que lhe permite sobreviver mais um dia.

Por isso, vou fazer como aquele homem e: "foda-se" este tempo, "foda-se" este país, que se foda tudo o resto.

P.S. E há rituais que não só nos mantém sãos como nos salvam e limpam a alma. O "rir com" eterno que nos segura com certeza ao que vale a pena, "foda-ses" à parte.

Bem hajam. Foda-se!