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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Erros de paralaxe: O Nazi Gay

Perdoem-me os leitores habituais pela menor frequência na publicação dos textos mas o tempo não é muito e o que sobra é para trabalhar para o que agora me ocupa o tempo, ou então simplesmente descansar. No entanto sempre dá para, de vez em quando, vir aqui comentar.

Antes demais definamos a noção de erro de paralaxe. A paralaxe é um fenómeno de ilusão que faz com que um corpo aparentemente se desloque dependendo da alteração de posição de quem observa, embora esteja realmente parado. Em óptica o erro de paralaxe significa a deslocação da imagem final de uma foto relativamente à perspectiva inicial do observador. Em ontologia o erro de paralaxe é quando esses dois pontos de vista (o original e o observador) se dão ao mesmo tempo. Uma paralaxe simultânea.

Os erros de paralaxe ontológicos dão-se, de um ponto de vista existencial, quando o observador tem um opinião acerca de algo exterior e faz exactamente o contrário do que opina. São dois pontos de vista paralelos e opostos, dados ao mesmo tempo tempo numa só pessoa. Agrava-se e completa-se este fenómeno existencial quando a pessoa vai mudando o seu ponto de vista a seu belo prazer relativamente ao objecto.

Esta é a descrição complicada e intelectualizada do que se vulga chamar "Má-fé"

Vem hoje noticiado no Correio da Manhã (e em tudo o que é imprensa) que Joerg Heider, que o antigo líder ultra-conservador da Áustria, neto de um oficial das Schutzstaffel (SS) mantinha uma relação homossexual com o seu sucessor no Partido e que horas antes de morrer esteve num bar gay...

Kierkegaard, nos seus escritos, defendia essencialmente a honestidade de si para si mais do que a honestidade de si para os outros como vitória máxima do próprio para se viver com tranquilidade até ao fim dos dias.

Uma coisa é esconder a sua homossexualidade por pressões da sociedade e intolerância dos outros por ser diferente. Outra coisa é advogar ferozmente contra uma tendência e à noite ir passar o esfincter com vaselina em gang bangs de motoqueiros de bigode ao som da Gloria Gaynor.

Nem me preocupa tanto o facto do Heider ter sido rabicha e espumar da boca contra os podres da sociedade como se fosse um oficial das Waffen-SS... Preocupa-me que estas figuras, exemplos máximos de erros de paralaxe com pernas, subam amiudamente nas sondagens, apoiadas cegamente por bandos de amibas sem espinha, sem um mínimo de livre arbítrio ou capacidade de opinião, pelos discursos odiosos que proferem estas personagens sinistras. A explicação é até simples. Elas próprias, as pessoas que o apoiam (que não são poucas, e para isso basta olhar as sondagens e ouvir as pessoas na rua, padecem também desse erro de paralaxe.

Ao ler estas notícias apetece-me por vezes esfrega-las na cara daqueles que antes defendiam com unhas e dentes determinada personagem por defender determinada ideologia. Cuspir-lhes a má fé de volta para cima.Vocifero eu aqui, num manifesto de angústia de quotidiano, para os que gritam sem pensar, para os seguidores da "moral" e dos "bons costumes", para os que destilam ódio gratuito pela diferença quando nada mais são do que iguais e gritar-lhes "SUA BESTA!!"

Mas atenção, o que está em causa aqui não é se há moral ou não há moral, se a homossexualidade é boa ou má ou se uma determinada ideologia é melhor do que a outra, pois isto abarca todos os outros aspectos da vivência em sociedade.O que está em causa aqui é a honestidade de si para si.

Respeitaria mais o Heider se fosse um Nazi assumido com uma suástica tatuada no pescoço e fosse honesto nas suas convicções. Seria absolutamente contra elas mas seria ao menos um adversário de respeito que poderia combater ferozmente.

Assim, (como a maioria da chamada extrema direita e extrema esquerda) são apenas uns pobres coitados que acabam por se consumir nas suas próprias contradições. Cegos para os seus próprios erros de paralaxe, constantemente a berrar o contrario do que fazem, e vice-versa, numa constante mudança de ponto de vista.

O que me preocupa é que essas pessoas são pessoas da rua, que estão aí, espalhadas no dia-a-dia que me vejo obrigado a partilhar.E o que mais me assusta ainda é que poucos são neste quotidiano entristecido, os que não o fazem...

1 comentário:

  1. Pá, é uma questão de justiça poética: o Haider foi enrabado antes de morrer...

    ...e depois também!

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Estou-me nas tintas para a tua opinião...