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quarta-feira, 14 de maio de 2008

Deus a morrer de Tédio no Paraíso

Recupero hoje um blog antigo... Por tédio...


Nos meus tempos saudosos, e fugazes também, de escriba e desenhista no DN jovem - dois trabalhos publicados, um verdadeiro portento criativo... - apreciava particularmente as banda desenhadas que alguns alucinados autores, em momentos de pura gastroentrite imaginativa, se lembravam de enviar para publicação. Ficou-me marcada uma história em particular acerca da criação do mundo. Esta cosmologia alternativa tinha como protagonista a inevitável dicotomia Deus/Satanás. Escuso de pormenorizar as referências intestinais desta cosmologia pois dando asas à imaginação é fácil concluir o que terá saído de 7 dias de prisão de ventre do senhor supremo do mal.
O blog de hoje não é no entanto acerca de nenhuma cosmologia.Embora não ande longe. Falemos antes de génese. Dessa história em BD o que retenho para o blog de hoje é a frase introdutória. O autor coloca as seguintes palavras do narrador a ilustrar no primeiro quadrado um Deus antropomórfico sentado com o cotovelo no joelho e com a mão a segurar a cabeça pendida:

"Estava Deus a morrer de tédio no Paraíso..."

Puro tédio, na sua asserção possibilitante mais pura. Considerando Deus na sua trilogia exclusiva de Omnipotência, Omnipresença e Omnisciência, Deus será também capaz de Tédio. É que, numa tentativa de compreensão da génese de algumas figuras a que, pela sua semelhança estética e comportamental básica - comer, dormir, andar, articular vocábulos - , se usam chamar de Humanos, esbarro por vezes com a parede do absurdo. É que, por mais radical que seja um movimento de fé, admitindo todas as acções de Deus com um sentido que só se acha através desse movimento, a nossa compreensão, finita e necessariamente limitada de seres mortais que somos, quimérica e patológica vontade de cabimentar sentido através de um nexo causal entranhado na nossa gramática do quotidiano, tende sempre a procurar uma razão das coisas. Para além da Fé. Assim sendo, dentro da horde de figuras que decoram o nosso quotidiano público há aquelas cuja origem só pode ter surgido de um movimento de Tédio divino...
Deus, não tinha mais nada para fazer, e decidiu, estando infinitamente aborrecido no seu Ser infinito, bafejar com a dádiva da vida, essas figuras.

É que não consigo perceber a existência de algumas, por agora chamemos-lhe assim, pessoas, a não ser como sub-produtos de um movimento de profundo aborrecimento divino.
Se quisermos desencantar uma tipificação para estas criaturas, algo pomposo, podemos chamar-lhes de Refugos do Tédio Divino. A termo meramente exemplificativo, vejamos o caso do grupo de pessoas, pois a génese não se aplica apenas a individuos mas também a conjuntos de individuos, admitindo as categorias aristotélicas, a que no nosso quotidiano português costumam denominar de dirigentes desportivos.

Que outro nexo causal conseguimos deduzir da existência de figuras como o Valentim Loureiro ou Luís Filipe Vieira - o Pinto da Costa é causa sui, não entra portanto nesta categoria - senão aquele que retorna ao motor primeiro do Tédio Divino? Deus, certamente motivado pela pasmaceira da eternidade, farto de ver o Homem a aniquilar-se por tudo e por nada, num puro movimento de despeito entediado, *paff* dá a Vida ao dirigente desportivo Dias da Cunha, que empregnado pelo absurdo existencial que é inerente à sua génese, se revela a triste figura que se arrastava nos diários desportivos e programas de comentários de futebol nas nossas televisões, surgindo de vez em quando à tona da água como aconteceu no programa da Fátima Campos Ferreira.

Mas o mesmo podíamos dizer de Reinaldo Teles, Pimenta Machado ou Hermínio. Mas estamos apenas na categoria dos dirigentes desportivos, que em si já são, enquanto conjunto, um produto de Tédio Divino. O mesmo aplicar-se-á a outras figuras e categorias. Temos muitos outros exemplos de existências bafejadas pelo aborrecimento de Deus... José Castelo Branco, Paulo Portas, Santana Lopes, Ribaus Esteves ou o saudoso Carlos Carvalhas - este fruto de um aborrecimento inofensivo - ou então a Filosofia Analítica ou as intervenções políticas dos dirigentes femininos do Bloco de Esquerda, etc, etc.

Por sua vez nem todo o movimento de Tédio é semelhante. Por vezes Deus está apenas ligeiramente aborrecido e ainda há um vislumbre de sentido na existência de um ou outro personagem, outras vezes o grau de Tédio é maior... Mas há vezes em que o Tédio é profundo... Extremamente profundo. Há figuras que só podem ter sido fruto de um movimento provocado por um Tédio tal que o absurdo da sua existência faz mossa no próprio Deus. Um momento de Tédio tal, uma redução a um nada tão absoluto, tão vindo das profundezas do Absurdo, que nem no momento da génese desse ser se conseguia vislumbrar o quão vazio de sentido se iria mostrar no auge da sua presença enquanto ser corporizado.

Hoje, mais do que nunca, eis a aberração exemplar do Refugo de Tédio Divino...



2 comentários:

  1. Não foi Deus que criou o universo. Aliás, o Universo nem sequer existe. Isto é tudo um plano da matrix, o que explica os Albertos Joões, os Ribaus, os Dias da Cunha, etc e tal: são bugs inevitáveis ao sistema.

    P.S.: Filosofia analítica ruleia!

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  2. ...poderia dizer mão amiga, mas foi de prima mesmo!, fez-me chegar este contacto. Confesso: agradou-me e muito! Se Deus estava a morrer de tédio no Paraíso, então aqui o escriba estaria enfadado num enfadonho domingo já sem tremoços, de beiças salgadas, sem bejecas geladinhas para acalmar as mesmas, mas de vistas toldadas, mas nem tanto assim que desse para imaginar mamas à vista ou vê-las lá bem longe na linha do horizonte onde tudo pode ficar pardo que ninguém nota, nem Deus num dia de pasmaceira, para despejar tremendo paleio!!!, ora, não fosse eu ter prazo de entrega de textos para produtora e ter de varar a noite e ainda assim não sei não..., ficaria a ler o arquivo todinho... mas está prometido, eu volto!

    Parabéns, meu!

    Outra coisa... Deus até pode estar distraído, mas eu não, se me apareceres com tacho de favas com chouriço e de José Cid a tiracolo, ao menos um vinil de 33 rotações a tapar as misérias (a tampa do tacho não, ou perco o apetite para o meu prato favorito)... Vá lá, pá!, com aquela idade, valha-nos Deus!, com ou sem tédio, parafraseando os brasileiros... ninguém merece!

    Um abraço,

    Number One

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Estou-me nas tintas para a tua opinião...