Deixo-vos com a minha habitual mensagm de fim de ano:
Mais uma volta que o estúpido e redundante planeta Terra faz em volta da fornalha atómica que o aquece. Estamos quase a voltar exactamente ao mesmo sítio onde estávamos há exactamente um ano atrás. Prova mais evidente da redundância da existência humana, em minha opinião, não há. Mas que se lixe.
A ano passado foi um ano de mudanças importantes, este ano foi um ano de consolidação mas ao mesmo tempo de ter entrado numa velocidade de cruzeiro que me deixa apreensivo para o ano que se adivinha. As duas escolhas que fiz, académica e musical, foram a tentativa de quebrar essa estagnação que se estava a formar. Mas deixa-me ao mesmo tempo numa perfeita incógnita no que aí advirá. Quando se mergulha de cabeça e de olhos fechados, é o que dá. Siga p'a bingo!
Assim sendo, e de novo, espero encontrar esta gente toda de novo cá para o ano, assim como eu e todos aqueles que ao longo deste ano de uma forma ou de outra o ajudaram a passar. Numa nota menos formal mas igualmente séria, cá fica de novo a minha lista habitual de sugestões nesta época.
Esta será a última semana do ano.
Preparem:
A carteira
O estômago
O fígado
A agenda
O tubo de vaselina
A embalagem de pílulas do dia seguinte
O Guronsan
O vosso psicanalista
Uma arma carregada
Porque vai ser de certeza uma semana muito animada.
Nunca é demais repetir e deixar aqui uns conselhos para o fim de ano que se avizinha.
Boas entradas, no sentido que lhe quiserem tomar.
"Vós que vos julgais felizes, olhai para o fundo das vossas almas e contemplai o vazio. Não tendes nada. E é o nada que vos ofereço."
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Ah... e tal, mais um ano... e tal
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
É Natal... (no shit, Sherlock)
É Natal. Deus enviou à terra o salvador, que nasceu Homem para sofrer e morrer pelos pecados da humanidade que não foi capaz de os assumir.
Certo?
Eu cá sou pagão, festejo o Solstício de Inverno. Para os restantes, eis a minha mensagem natalícia
Christmas time is here again
Santa needs a helping hand
We cannot find his evil sheet
To draw his laying for the night
So all the waiting Christmas trees
Gonna hear their master sing....
There's no presents, Not this Christmas
There's no presents
Tom and Jerry, Drinking Sherry
They don't give a damn
Christmas time is here again
Santa needs a helping hand
It's getting very, very late
St.Peter's crossed the Golden Gate
An Donald Duck is still in bed
I wonder who he's gonna help
There's no presents, Not this Christmas
There's no presents
Tom and Jerry, All done Sherry
They don't give a damn
There's no presents, Not this Christmas
There's no presents
Tom and Jerry, Still Drinking Sherry
They don't give a damn
I'm dreaming of a white.... Sabbath....
Merry X'mas Y'all
Peace!
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
O Capital não passará!
Mas vejamos o seguinte: cresci na margem Sul na cintura industrial do Barreiro/Seixal, portanto só se surpreenderá quem viver fechado numa ostra de ilusão... Ok, 99% das pessoas surpreenderam-se, adiante.
A minha infância foi formatada pelo imaginário revolucionário.
Cresci com uma efígie do Lenine no hall de entrada, tenho em casa uma preciosa biblioteca de propaganda anarco-sindicalista e edições das obras completas do Lenin com tradução autorizada pelo Kremlin. O meu pai, no Carnaval, mascarava-me de guerrilheiro cubano e na minha rua, na parede principal do mercado, esteve durante muitos anos um mural gigantesco pintado com aquelas imagens à la realismo soviético, com turbas de camponeses e operários a segurar os estandartes vermelhos em marcha contra o capital.
Isto, como disse, só é estranho para quem não viveu na Margem Sul dos anos 80.
No entanto, nos anos 80, o frenesim do novo riquismo, o fim do fervor do PREC e os anos conturbados do fim do comunismo a leste, fez com que, para um comunista que se prezasse, estes anos fossem uma alvorada do capitalismo selvagem, o surgir das privatizações em massa e o subir das grandes fortunas centradas em personagens sinistras ligadas aos governos austeros do Cavaco Silva, ao mesmo tempo que a classe camponesa e operária ia sendo lentamente afastada para o ocaso como uma memória fugaz de um imaginário distante de tempos idos da revolução.
A vida foi continuando nestes últimos 20 anos e, como se sabe, tem sido o que foi cá no nosso Portugal. Felizmente por minha parte nunca fui obrigado a seguir qualquer ideologia que fosse e sempre tive a liberdade de seguir as minhas ideias. A base do imaginário permaneceu em muita coisa e foi difícil de apagar mas a minha formação intelectual está intima e indissoluvelmente ligada ao departamento de Filosofia da FCSH, portanto de verdadeiro comunista tenho pouco. Mas aqui Freud explica e há coisas que se ganham na infância que, de tal modo recalcadas que estão, passam a fazer parte das próprias paredes que nos levantam e seguram no dia-a-dia.
Ontem, mais do que o anúncio da privatização do BPN por Teixeira dos Santos, foi a notícia da detenção de Oliveira e Costa, anterior administrador do banco, o primeiro banqueiro português a ser detido por fraude, que me fez parar, fechar os olhos, e sentir-me no meio da turba dos operários e camponeses a segurar os estandartes ao vento, marchando contra o Capital:
"Não passarás"
Bem hajam.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Uma dívida antiga
Na boa vida universitária, com muito trabalho de estudo mas também muita farra e copazaina e essencialmente a liberdade de não ter que cumprir um horário rígido, não eram raras as vezes que, depois de noitadas preenchidas a deboche, ainda arrastava o corpo cansado para as aulas.
Num desses episódios, no autocarro 16 da Carris que me trazia da Caixa Geral de Depósitos da Av. da República para a Av. de Berna, vinha com uma ressaca de sono tremenda, de olhos esbugalhados e boca aberta a salivar. Mas dirigia-me para as aulas, portanto de mala e livros armados para mais um dia de pedagogia e ressaca.
Naquela moínha semi-tonada da sonolência e expectativa sofredora de um dia recheado de aulas monocórdicas, não deixei de ouvir uma observação da senhora que se sentava á minha frente, dirigida à minha pessoa ensonada, mas comentando com uma amiga que a ladeava.
"Vês? Coitadinho. Vai para as aulas, ali para a universidade. Vai cheio de sono. De certeza que esteve a trabalhar. Trabalha e estuda. Há que dar valor a estes jovens que se esforçam por ter uma educação e fazem estes sacrifícios"
Com os olhos fechados, por isso a senhora se deu à liberdade de me comentar, nao deixei de esboçar um sorriso cínico mental, onde lhe respondi em pensamento:
"Soubesses tu que estive levantado até às 4:30 da manhã a mamar cerveja e a ver um documentário sobre a história da pornografia na SIC..."
No entanto aquele repente de cinismo foi logo abafado por um aperto de arrependimento. O tom da senhora foi tão de boa fé, com um ar de tamanha maternalidade, compreensão e carinho, decerto habituada a ver o corropio de estudantes no autocarro, decerto mãe ou avó de um estudante e trabalhador, que aquele esgar de cinismo foi substituído por um sentimento de dívida eterna para com a atitude compreensiva que aquela senhora teve para com o meu aspecto de cansaço.
Senti que, na sexta feira passada, passados oito anos desde esse fait divers, a minha divida foi finalmente paga.
Depois de uma semana de trabalho tenso, de aulas até às 21:00, e de uma aula daquelas academicamente pesadas e densas, ao sair meio atordoado da sala, tipo zombie e com o corpo a latejar de cansaço, juro que ouvi a senhora do autocarro a dizer-me lá no fundo da memória:
"Aposto que preferias ter estado o dia inteiro a mamar cerveja e a ver pornografia"
Dívida paga!
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
É pá... vão p'ó c*ralho
Oh Miguel Cadilhe.,.. Vai p´ró c*ralho...
Então aceitas ir para o BPN gerir aquilo apenas com a condição de te darem um plano de poupança reforma do prórpio banco de 10.000.000€ que EXIGES pôr numa instituição fora do Grupo BPN, e ainda vens para a televisão resmungar com o Estado por ter nacionalizado o Banco porque tinhas toda a confiança na resolução dos problemas que herdaste da administração anterior? Pelos vistos a confiança tem um limite... de 10.000.000€...
Oh Cadilhe, vai p'ró c*ralho pá....
Oh Luis Delgado, vai pró c*ralho
Então vens para o programa da SIC Notícias das eleições norte-americanas dizer que, apesar de todos os noticiários afirmarem que esta era a eleição mais participada de sempre desde os anos 60, a maior votação foi a do George W. Bush, e ainda enches a boca arrogantemente como se isso fosse uma certeza e as pessoas em casa não tivessem canais de cabo (Se estão a ver a sic notícias é porque têm cabo duuh)...
Pois bem, apesar da lavagem constante dos podres da administração republicana, este facto é inegável: Um descendente de um queniano com um nome muçulmano, com propostas socialistas, acabou de ganhar o lugar de líder mais poderoso do mundo ocidental como o presidente que mais votos populares teve.
O que tu estás é a rasca por ires deixar de fazer parte do rol de ordenados da CIA para propagandistas neo-cons infiltrados na Europa.
Por isso, oh Delgado, vai p'ró c*ralho pá!
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Viva o PREC!
Qual Vasco Gonçalves, Teixeira dos Santos anuncia a nacionalização do BPN, criado em pleno tempo de iuppies e capitalistas, por este já só ser um pasto de lavagem de dinheiro e ter enterrado 700 milhões de euros num buraco sem fundo.
O Concelho de Ministros, qual Junta de Salvação Nacional, vem agora anunciar com toda a tranquilidade, aquilo que foi repudiado com violência nos tempos do PREC onde, o programa do MFA decidiu nacionalizar de uma só vez a banca inteira, ou seja, «todas as instituições de crédito com sede no continente e ilhas adjacentes».
Rude golpe para os capitalistas do regime que se viram forçados a fugir do país e refazer a fortuna para anos depois voltarem de armas e bagagens no tempo das vacas gordas do capital em Portugal. mas o tempo das vacas gordas em portugal foi apenas de vitelinhos mais ou menos cheinhos e de Mellos e Champalimauds hoje só temos capital estrangeiro, sobrando apenas o Belmiro de Azevedo como réstea desse tempo áureo do capitalismo nacional.
A diferença é que hoje a nacionalização da banca não acontece como alternativa ideológica ao capitalismo mas sim como um último recurso para não deixar caír os depósitso dos milhares de clientes que confiaram numa instituição privada para gerir o seu dinheiro e investimentos.
Mais uma vez a hipocrisia é evidente. Aquando do PREC o capitalismo vociferou contra a ruína da economia nacional nas mãos do estado. 30 anos depois vêm choramingar batatinhas. São contra a nacionalização dos ganhos, mas já são a favor da nacionalização das perdas. O estado só serve para segurar as gestões danosas, feitas às escuras, fora do controlo do estado, condição convenientemente idealizada como sendo a alternativa correcta para assegurar o progresso da economia.
O problema é que o capitalismo é um sistema económico e não uma ideologia. É preciso ser ou muito estúpido ou muito ingénuo (ou estar de má-fé) para achar que a opção por ter as grandes empresas fora do controlo do estado tem a ver com uma questão ideológica e uma solução para fazer evoluir a economia.
Fugir ao controlo do estado, como se tem visto, serve apenas e unicamente para uma coisa. Exemplos como a ENRON, a AIG nos Estados Unidos, a crise da Finlândia e a nossa amostra de 700 milhões, dos quais metade desapareceram por investimentos fictícios e lavagem de dinheiro, mostram que o não ter o controlo do estado serve para esconder as operações obscuras que, de facto produzem muito dinheiro, mas que, como se viu neste fim de ciclo, não produzem para a economia, apenas enchem os bolsos de alguns, e quando falha, tem de ser o estado, aquele que vociferavam contra antes, a providenciar a bóia de salvação.
Às vezes vêm-me os repentes revolucionaários e desato a cantar no autocarro entredentes:
"Força, força, companheiro Vasco, nós seremos a tua muralha d'aço"...
domingo, 26 de outubro de 2008
Alvos a Abater: Pequeno manual de respostas prontas a situações do dia a dia.
O grande Filósofo das Segundas Feiras Jim Davies, mais conhecido pela sua gatificação da BD, Garfield, tinha uma maneira simples de dar destino a qualquer personagem que não lhe merecesse existência digna no seu qoutidiano enquanto gato. Aos carteiros, ao palhaço Binky, aos apresentadores de concursos imbecis, a pessoas que detestavam lasanha, Garfield arranjava-lhes um fim simples. Parafraseando:
"Gajos como tu deviam ser arrastados para a rua e abatidos a tiro"
É com essa frase que constantemente habita no meu imaginário, por força das circunstâncias do dia a dia, que muitas vezes respondo entredentes a certas personagen. Manda o civismo, e uma boa dose de um cocktail de Filosofia Zen com Estoicismo, que responda o mais possível com um sorriso e um "Com certeza, compreendo perfeitamente, muito bom dia" Maneirismo adoptado de um trabalho que tive em tempos e que muitas vezes consistia em falar com verdadeiros energúmenos mas cujo dever laboral me obrigava a responder com um sorriso na cara (que segundo os supervisores se "reflactia na voz"... um c*ralho de preto pelo cu acima também se reflectia na voz...) Adiante.
Já conhecidos aqui os meus ódios predilectos, alvos dos mais diversos blogs, sendo eles, para quem não conhece, a classe Jurídica, os empreiteiros de construção civil e os Filósofos analíticos, vamos dirigir o tema de hoje a casos mais específicos. No nosso quotidano de trabalho, familiar e no meu caso específico, também académico, deparamo-nos constantemente com situações, que podem ser personificadas por um personagem concreto ou casos que podem advir de artigo que lemos ou de uma situação material mas cujo autor ou responsável não está presente, que nos podem levar a uma resposta/solução que se enquadra perfeitamente na máxima Garfieldeana:
"Guys like you should be dragged in to the street and shot"
Por exemplo. Estamos no Metro e um senhor com ar importante, passa-te à frente, calca-te tranquilamente o dedo grande do pé, que por acaso até tem uma unha encravada e em vez de pedir desculpa ainda te afasta com ar ofendido da porta para poder passar. Eis uma situação em que podíamos adoptar uma versão até mais elaborada da máxima Garfieldeana. Não fosse o, pouco, sentido cívico que ainda nos resta - aos que ainda resta - imediatamente, num surto fulminante de Honestidade, pegávamos no senhor pelos colarinhos e proferíamos sonoramente:
"Filhos de Puta como TU deviam ser amarrados com arame farpado e arrastados para a rua à chuva e abatidos com um tiro na nuca como se faz aos cães raivosos como TU!!!"
Sendo que o "TU" deveria ser acompanhado com uma dose generosa de saliva bem perto da cara.
No entanto, já que a utilização da resposta foi generalizada pela personagem felina e como por mais variações que faça ao "arrastar até à rua e abater a tiro", não passará nunca de uma colagem ao original agradeçemos o mote a Jim Davies e procuremos outro tipo de respostas/acções que podemos dar a estas e outras situações de quotidiano se de repente fossemos assolados por um surto de honestidade fulminante.
Vejamos por exemplo a resposta/acção para as seguintes situações:
Aos tocadores de acordeão e violino de leste que usam caixas de ritmos e actuam no Metro às 9 da manhã:
"A gajos como tu deviam enfiar a cabeça num cone de alumínio de uma coluna de 19" e ligá-la no máximo para um volúme para além do limiar da dor, ao som da Sagração da Primavera do Stravinsky e enquanto os teus tímpanos não explodissem os teus genitais deviam ser esticados com as cordas do violino enquanto de espancavam a cabeça com o acordeão!!"
A analíticos que argumentam ética animal com modus tollens
"Gajos como tu deviam ser obrigados a ser enfiados dentro de uma carcaça de vaca acabada de matar e limpar a carne dos ossos com a língua enquanto te tatuavam a ferros em brasa o Da certeza do Wittgenstein do lado esquerdo do corpo e do outro lado a Ética Animal do Peter Singer ao mesmo tempo que um porco com peste suína te sodomizava."
Aos de extrema direita que advogam a homossexualidade como cancro social e negam direitos fundamentais a cidadãos só porque abafam a palhinha ou lambem carpetes...
"Um preto com 2m10 de altura e 150 Kg de peso preso há 10 anos"
Ah... espera... Provavelmente esta última até nem é castigo...
Bem Hajam...
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Erros de paralaxe: O Nazi Gay
Antes demais definamos a noção de erro de paralaxe. A paralaxe é um fenómeno de ilusão que faz com que um corpo aparentemente se desloque dependendo da alteração de posição de quem observa, embora esteja realmente parado. Em óptica o erro de paralaxe significa a deslocação da imagem final de uma foto relativamente à perspectiva inicial do observador. Em ontologia o erro de paralaxe é quando esses dois pontos de vista (o original e o observador) se dão ao mesmo tempo. Uma paralaxe simultânea.
Os erros de paralaxe ontológicos dão-se, de um ponto de vista existencial, quando o observador tem um opinião acerca de algo exterior e faz exactamente o contrário do que opina. São dois pontos de vista paralelos e opostos, dados ao mesmo tempo tempo numa só pessoa. Agrava-se e completa-se este fenómeno existencial quando a pessoa vai mudando o seu ponto de vista a seu belo prazer relativamente ao objecto.
Esta é a descrição complicada e intelectualizada do que se vulga chamar "Má-fé"
Vem hoje noticiado no Correio da Manhã (e em tudo o que é imprensa) que Joerg Heider, que o antigo líder ultra-conservador da Áustria, neto de um oficial das Schutzstaffel (SS) mantinha uma relação homossexual com o seu sucessor no Partido e que horas antes de morrer esteve num bar gay...
Kierkegaard, nos seus escritos, defendia essencialmente a honestidade de si para si mais do que a honestidade de si para os outros como vitória máxima do próprio para se viver com tranquilidade até ao fim dos dias.
Uma coisa é esconder a sua homossexualidade por pressões da sociedade e intolerância dos outros por ser diferente. Outra coisa é advogar ferozmente contra uma tendência e à noite ir passar o esfincter com vaselina em gang bangs de motoqueiros de bigode ao som da Gloria Gaynor.
Nem me preocupa tanto o facto do Heider ter sido rabicha e espumar da boca contra os podres da sociedade como se fosse um oficial das Waffen-SS... Preocupa-me que estas figuras, exemplos máximos de erros de paralaxe com pernas, subam amiudamente nas sondagens, apoiadas cegamente por bandos de amibas sem espinha, sem um mínimo de livre arbítrio ou capacidade de opinião, pelos discursos odiosos que proferem estas personagens sinistras. A explicação é até simples. Elas próprias, as pessoas que o apoiam (que não são poucas, e para isso basta olhar as sondagens e ouvir as pessoas na rua, padecem também desse erro de paralaxe.
Ao ler estas notícias apetece-me por vezes esfrega-las na cara daqueles que antes defendiam com unhas e dentes determinada personagem por defender determinada ideologia. Cuspir-lhes a má fé de volta para cima.Vocifero eu aqui, num manifesto de angústia de quotidiano, para os que gritam sem pensar, para os seguidores da "moral" e dos "bons costumes", para os que destilam ódio gratuito pela diferença quando nada mais são do que iguais e gritar-lhes "SUA BESTA!!"
Mas atenção, o que está em causa aqui não é se há moral ou não há moral, se a homossexualidade é boa ou má ou se uma determinada ideologia é melhor do que a outra, pois isto abarca todos os outros aspectos da vivência em sociedade.O que está em causa aqui é a honestidade de si para si.
Respeitaria mais o Heider se fosse um Nazi assumido com uma suástica tatuada no pescoço e fosse honesto nas suas convicções. Seria absolutamente contra elas mas seria ao menos um adversário de respeito que poderia combater ferozmente.
Assim, (como a maioria da chamada extrema direita e extrema esquerda) são apenas uns pobres coitados que acabam por se consumir nas suas próprias contradições. Cegos para os seus próprios erros de paralaxe, constantemente a berrar o contrario do que fazem, e vice-versa, numa constante mudança de ponto de vista.
O que me preocupa é que essas pessoas são pessoas da rua, que estão aí, espalhadas no dia-a-dia que me vejo obrigado a partilhar.E o que mais me assusta ainda é que poucos são neste quotidiano entristecido, os que não o fazem...
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Chineses, Coca-Cola e esperma
Nesta horinha de descompressão matinal antes de um dia longo não há como fazer o browse pelas notícias madrugadoras à procura de algo edificante que nos ajude a passar o dia com optimismo. Com o planeta à beira da crise financeira, com o país refém dos cartéis gasolineiros (e com as amibas dos portugueses a abrirem o buraquinho do cu, passarem vaselina e convidarem que os capitalistas os enrabem bem fundo com as mangueiras de gasolina, num misto de masoquismo BDSM com submissão ao capitalismo moribundo), com o Benfica a suicidar-se tacticamente à beira da liderança, resta-nos o progresso científico e as suas as revolucionárias investigações para nos dar esperança que o mundo de amanhã não é um buraco negro sem fundo nem futuro.
Ou não.
A comunidade científica (aquela que inventou a bomba atómica e gastou 6 biliões de dólares num círculo de 27 quilómetros que não funciona) presenteia-nos anualmente com os mais perfeitos exemplos de inutilidade da actividade da raça humana. Ao mesmo tempo que se celebra em magnânimos festejos a entrega dos prémios Nobel, são também entregues os Prémios IgNobel. premiando os feitos mais idiotas do progresso e investigação da humanidade.l
Fiquem com alguns dos exemplos do quão idiota pode ser o espírito humano, contrabalançando assim a ideia de que o intelecto serve para alguma coisa:
- IgNobel da Biologia: Marie-Christine Cadiergues, Christel Joubert, e Michel Franc descobriram que as pulgas que vivem em cães saltam mais alto do que as que vivem em cães...
- IgNobel da Química: Sheree Umpierre, Joseph Hill, e Deborah Anderson por descobrirem que a Coca-Cola é um espermicida eficaz e C.Y. Hong, C.C. Shieh, P. Wu, e B.N. Chiang por descobrirem que não é... (nem quero tentar imaginar que tipo de experiências fizeram os primeiros para chegarem à primeira conclusão, e muito menos os segundos para a indeferir. De notar que os segundos são chineses... Chineses, Coca-Cola e esperma... adiante...)
E finalmente o meu favorito:
- IgNobel da Paz: A Comissão Federal Suiça de Ética para a Biotecnologia Não-Humana e os cidadãos da Suiça por adoptarem o princípio legal (!) de que as plantas têm dignidade!
Ora só este último prémio IgNobel dá para fazer um blogue com contornos ensaísticos, mas fiquem-se com esta: Da próxima vez que roerem uma cenoura... Não se esqueçam que ela era um vegetal digno...
Os restantes nomeados deste ano e dos anteriores, aqui:
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Ig_Nobel_Prize_winners#2008
Bem hajam
sábado, 27 de setembro de 2008
Há 22 anos a malhar eternamente na alma
Clifford Lee Burton
10 de Fevereiro de 1962 - 27 de Setembro de 1986
Se os Deuses são os que não podem morrer, então estás entre eles. Obrigado pela tua música, pela tua inspiração e por manteres o espírito do metal para sempre vivo.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
RIP Richard Wright
Morreu ontem, vítima de uma breve e inglória luta contra um cancro, o teclista dos Pink Floyd, Richard Wright, aos 65 anos de idade
Depois do desaparecimento de Syd Barret, este é o segundo dos Floyd a abandonar este mundo. Fica como parte fundamental do processo criativo dos Pink Floyd onde, sem os seus samplers analógicos, o génio criativo de Roger Waters, melodias únicas de David Gilmour e os ritmos frenéticos de Nick Mason dificilmente conseguiriam sobressaír com a genialidade qu elhes conhecemos.
Aqui fica uma das minhas favoritas, de uma das bandas mais geniais de todos os tempos, numa interpretação única, típica da megalomania cénica dos Pink Floyd onde os teclados de Wright fazem toda a diferença.
Descansa em Paz na tua última viagem, in that great gig in the sky
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
A TV da Sociedade Civil
O resto da televisão de sinal aberto é futebol, notícias e programas sobre futebol e notícias. Como as únicas séries decentes passam na RTP 2 e esse canal ninguém vê porque agora as séries sacam-se todas do Piratebay, propunha, para salvar a TV de sinal aberto, uma recuperação do conceito do tempo do ministro boxeur, ex-toxicodependente, a sinistra personagem do Morais Sarmento. A TV feita pela Sociedade Civil.
Mas para não transformar uma TV feita pela Sociedade Civil num enorme bocejo, propunha uma grelha de programas com algumas nuances mais interessantes, e ao mesmo tempo pedagógicas.
Senão, vejamos algumas sugestões com programas oferecidos pelas mais diversas organizações civis que representam o eceletismo do Portugal real:
A Opus Gay: Com programas a mostrar o roteiro homossexual da noite de Lisboa com entrevistas ao Francisco Louçã e ao casal de lésbicas casadoiras, e reportagens de como se pode enrabar o parceiro suavemente e com menos atrito. Anúncios a esfoliantes e cremes depilatórios.
A Opus Dei: Com reportagens sobre a obra na sociedade, boletins semanais do progresso do plano para dominar o mundo e pequenos flashes sobre o cristianismo radical em acção, com filmagens das acções em penhascos, praias do Hawai, rápidos e montes, com vários acólitos em pleno exercício de Bungee Jumping, Kite Surf, Rafting e DownHill respectivamente. Com a graça do senhor, obviamente.
A Maçonaria Programas sobre pedreiros e arquitectos, numerologia e vários peditórios para o fundo de ajuda a maçons presos por fraude económica. Programas de economia e um espaço na Universidade Aberta com aulas dadas em directo da prisão do Linhó e calabouços da Judiciária. Patrocínio da Fundação Mário Soares
Associações de Ajuda a Ex-Toxicodependentes Cariz pedagógico com programas didácticos sobre anatomia e como agarrar melhor a veia, vários tipos de garrote. Programas científicos com vários study-groups onde são lançados novos tipos de drogas para estudar os efeitos nos indivíduos. Ligações em directo. Uma espécie de Big Brother Casal Ventoso.
A SOMA ( Associação para a legalização das drogas ) Programas de cariz educativo. Como enrolar um porro, cachimbos de água artesanais, como sintetizar ácido lisérgico. TV Rural: Como cultivar a cannabis, cogumelos e papoilas. Debates temáticos: Debater sob o efeito da White Widow, debater sob o efeito de chamon marroquino, debater sob o efeito de pastilhas. Temas aleatórios.
Educação Sexual Desporto. Classes de foda em grupo. Provas de resistência, um gajo fode gajas sucessivamente até o colhões mirrarem. Ganha que aguentar. Programas sobre posições suecas e do Botswana. A História do Broche: desde os primórdios da amamentação de ovelhas até ao bico sofisticado de escritório. Reportagens: Sexo depois dos Noventa: Foder com a Morte. etc
Com uma grelha assim, finalmente teríamos a televisão de serviço público que há muito pretendíamos mas nunca nos foi oferecida.
Bem hajam..
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Referências Pós-Estivais - O Início da Época Oficial
Hoje falo-vos num conceito em voga. Pergunto-me (e pergunto-vos) o que é que significa a tão badalada expressão francofono-abichanada de reentré, para além das possíves referências vaselínicas...
A rentreé é o reinício daquilo que vulgarmentes se chama "Época Oficial"
Recomeça, então, a época oficial... Do quê? A época oficial de tudo, ao que parece...
O que durante três meses é a brincar no ano, de repente em setembro torna-se oficial, senão vejamos algusn exemplos:
O época oficial do futebol, ou como passa a ser oficial aos maridos portugueses irem encher a marmita de cerveja para o café e a chegar a casa bêbados, e a mulher nem xinga porque agora já passou a ser oficial.
A época oficial escolar ou como passa a ser oficial para os putos roubar dinheiro aos pais para comprarem ganzas e fumá-las no pátio. Porque fumar ganzas em acampamentos, festivais de Verão ou na praia não tem o ar oficial da instituição escolar.
A época oficial política, ou como para a classe política portuguesa passa a ser oficial dizer merda, porque antes diziam merda e tinham a desculpa de o dizer numa praia da quinta do lago a torrar a barriga branca ao sol. Era merda estival, agora é merda oficial. Faz mais fresco, cheira menos...
A época oficial judicial ou como basicamente a merda que têm andado a fazer durante o Verão e estava encravada nso tribunais passa a estar oficialmente cadastrada: "Ah... Era de noite, fazia calor, bebi uns vodcas... Ela disse-me que tinha mais de 18 anos... Da maneira como estava maquiada sabia lá que fazia parte do elenco infantil das novelas da TVI..."
A época oficial televisiva ou como a reciclagem de conceitos gastos a partir de estrelas televisivas oxigenadas e dacadentes parece ser a tábua de salvação para combater o futebol da TV do estadoe a pedofilia oficial das novelas das privadas concorrentes. Ou como a miséria psicológica dos programadores da TV em sinal aberto passa a ser parte da grelha oficial
Vemo-nos oficialmente por aí.
Até lá, um miminho intemporal a assinalar a data:
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
The Philosopher's Song
The Philosopher's Song (Monty Python)
Immanuel Kant was a real pissant
Who was very rarely stable.
Heidegger, Heidegger was a boozy beggar
Who could outdrink you under the table.
David Hume could out-consume
Schopenhauer and Hegel,
And Wittgenstein was a beery swine
Who was just as schloshed as Schlegel.
There's nothing Nietzsche couldn't teach ya'
'Bout the raising of the wrist.
SOCRATES, HIMSELF, WAS PERMANENTLY PISSED...
John Stuart Mill, of his own free will,
On half a pint of shandy was particularly ill.
Plato, they say, could stick it away;
Half a crate of whiskey every day.
Aristotle, Aristotle was a bugger for the bottle,
Hobbes was fond of his dram,
And Rene Descartes was a drunken fart: "I drink, therefore I am"
Yes, Socrates, himself, is particularly missed;
A lovely little thinker but a bugger when he's pissed!
Bom crepúsculo das férias.
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Razões para não casar
Há muitas razões para ainda não estar casado.Por exemplo: não tenho dinheiro. Um casamento custa o mesmo que um carro, e a mim um carro dá-me mais jeito do que encher o cu a labrujas que vejo uma vez por ano e que só iriam aparecer mesmo para me foderam a tábua de qeijos. Por isso quando tiver dinheiro compro um carro, vão comer queijo p'ró c*ralho. Depois, ainda não conheci a "Mrs. Right" que me ature, 7 dias por semana, 30 dias por mês, 12 meses por ano, até ao resto da minha vida... Ou até um ou outro perceber que "aquilo" com que acorda no dia seguinte afinal é uma outra cena qualquer e o que quer é voltar para a casa da mamã. Ou por outra razão qualuqer.
Descobri há dias, numa epifânia futurulogista, que há ainda uma razão obscura, escondida dos horizontes adivinhatórios dos mais incautos dos casais.
Ainda estou na casa baixa dos trintas, por isso a perspectiva de sexo com fartura ainda ocupa e vicia o horizonte do casamento. Eu como homem não tenho problemas de líbido. No dia que o não conseguir levantar, vai Viagra. Uma vez perguntaram-me como me imaginaria aos 50 anos. Resposta imediata: Bêbedo, gordo, careca e a Viagra. Uma espécie de Charles Bukowsky tuga. Aí está algo a almejar. Ora o Charles Bukowsky nunca casou. era um poeta que ganhava a vida a poetizar e tudo o que é crica de todas as cores e idades lhe passou pelas beiças. Estrela da literatura alternativa como era nunca teve que imaginar como seria a sua vida monogâmica. Senão teria de contemplar o seguinte:
Ao fim de dez anos de tédio do casamento, se a mulher engordou e fartou-se da vida, mas nós, vá-se lá saber porque razão sádica de cupido, ainda gostamos dela o suficiente para a aturar, digamos que há a possibilidade das vida sexual não ser a mesma que era quando se entrou com o tesão todo na vida conjugal.
Isto porque se ao homem lhe basta conseguir levantar o mastro e ter um par de mamas, a mulher entra numa onda depressiva se por alguma razão não se consegue excitar...
Uma pausa. Antes que comece para aí o mulherio com a observação labrega de "ah e tal se fizesses o teu trabalho" Pára. Não é isso de que estou a falar. Estou a falar de quando se chega à noite e se tem o sequinte diálogo, quando a mulher, farta de trabalhar,. farta da vida, dos filhos e do marido está deitada com a cabeça cheia de comprimidos.
-Bébé, vamos dar uma?"
-Ai não que não me apetece, diverte-te tu.
- Então, sexo oral...
- Ai tou cheia de aftas...
-Então, dá-me o cuzinho...
- Tenho as hemerróidas inchadas...
-Chiça, o teu cu é como o dinheiro, uma merda que se tem mas não se dá...Então ao menos deixa-me fazer-te sexo oral a ti...
- Aiii, dói-me a verruga...
-F*-da-se... Olha, tenho aqui um gel, toca-me tu ao bicho que ando há 4 semanas nisto e já tou farto
-Ai, tenho as articulaões doridas de enfiar cabos em autoradios..
-(Ou de tocares ao bicho ao patrão...)
And so on, and so on
Ora a epifânia que se me deu teve a forma de um futuro, onde se tem um barco em casa e não se pode navegar.
Ora quando se é solteiro e se anda pelo país a "espalhar a semente" dificilmente se vislubram futuros assim. Quando nos apaixonamos por alguém muito menos. Mas o síndrome do PDI toca a todos.
O que vale é que a epifânia depressa passou e a ilusão de um futuro de casado como uma aventura sexual constante voltou a toldar-me as previsões.
Bem hajam...
sábado, 26 de julho de 2008
A CHAMADA DEPRESSÃO CRÓNICA DOS PORTUGUESES: Um pequeno ensaio sobre a saudade, o fado e o blues
( Hoje é um blog longo, mais académico e conceptual. Se quiserem perder tempo a lê-lo até ao fim, sejam bem vindos, se não estiverem para aturar-me os devaneios filosóficos pretensiosos, compreendo perfeitamente... ;P )
Volta e meia vêm a público, em variados noticiários, uma série de reportagens sobre a suposta onda de depressão que o português está a sofrer e que tudo isso tem a ver com o desemprego, com os processos judiciais intermináveis, com o preço dos combustíveis, com o Benfica não ganhar o campeonato, com a inflação... Depois é o costume, o jornalista vai para a rua a fazer as perguntas imbecis da praxe, do género, "Sente-se deprimido?" "Acha que temos razões para esta depressão?" E a vítima, normalmente a selecção das edições dos telejornais escolhem sempre o prototipo do português entrevistado que é alguém de meia idade, de classe média, de estatura média, com cultura geral média ( que no caso do português é saber ler e assinar o nome ), lá responde, fazendo ao máximo para esconder o tumulto que lhe vai pela cabeça, causado pelo adultério do conjuge e o emprego precário na fábrica à beira da falência, lá encolhe os ombros com um sorriso amarelo e responde que sim, que normalemente todos respondem e dá para tudo. Depois as reportagens são decoradas com o chantili da cartilha dos sociólogos, antropólogos e psicólogos que despejam ccom a lenga lenga a justificações batidas das conjunturas sociais, quotidianas, familiares e outras que tais e ficamos todos muito mais esclarecidos.
Ou então não.
O facto de estarmos de facto numa conjuntura, para não nos afastarmos da cartilha, menos positiva no país isso não implica que estejamos todos mais deprimidos. O condição essencial e arqutípica do português é este estado, não depressivo que o epíteto é talvez demasiado clínico, mas melancólico. Se quiserem de uma melancolia que pode atingir por vezes contornos patólógicos em alguns picos cronológicos mas que não depende de conjunturas e sim da condição natural de ser português. Mesmo se fôssemos o país mais rico do mundo, se tivéssemos a sociedade limpa de corrupção e criminosos não conseguiríamos libertarmo-nos daquele sentimento que nos faz comichão diariamente na alma. Por outro lado não nos reduziríamos à má fé dos povos do norte onde são de facto ricos e têm tudo o que se poderia desejar e acabam por se matar aos magotes porque não aguentam o tédio e o vazio. O português alimenta-se de tédio e de vazio, porque a notificação do tédio e de vazio que nos caracteriza é uma notificação negativa, ou seja, é um vazio que é acompanhado de uma co-apresentação de esperança. O seu melhor exemplo é a noção de saudade, que erróneamente é considerada uma palavra exclusivamente portuguesa pois há étimos equivalentes no castelhano, no galego, no romeno e mesmo no alemão, mas cujo sentimento, a forma como sentimos, como sabemos o que significa o étimo, é exclusivamente português. É que embora os nossos vizinhos mais próximos, os romenos e os germânicos tenham uma palavra que se pode aproximar ou etimologicamente ou na raíz da sua significação à saudade portuguesa, o que está em causa na sua tradução existêncial quotidiana não é de todo equivalente.
Saudade, fado e blues
Reflexo disso, e esse reflexo teria que ser projectado inevitavelmente numa forma de arte, é o nosso género musical nacional, o fado. Não há, no meu parco conhecimento da cultura internacional, se houver façam o favor de me informar, nenhuma forma de arte onde o único motor criativo seja o sentimento de perda. Nem o blues, e e escolho aqui o blues pois será aquele que mais me vem à ideia no que se trata de cantar as desgraças e cuja estrutura lirica e harmónica é, aparentemente, equivalente ao do fado, que apenas trata de situações esporádicas de tristeza, onde o fado é a própria tradução da perspectiva católica ( do grego catholos, universal, que quero afastar-me o mais possível das referências religiosas ) da condição de perda irreparável.
Senão vejamos. O blues usa uma estrutura básica de acordes a acompanhar letras simples que tratam de pequenas estórias de abandonos, de traições ou de pequenos desaires monetários pessoais que essencialmente retratam um ambiente decadente cujo autor foi protagonista, cuja vivência o faz sofrer e do qual se quer libertar, como podemos ver aqui nesta letra de uma das divas do jazz/blues dos anos 30, Billie Holliday:
BILLIE's BLUES
Lord, I love my man, tell the world I do,
I love my man, tell the world I do;
But when he mistreats me, makes me feel so blue.
My man wouldn't give me no breakfast, wouldn't give me no dinner,
Squawked about my supper and he put me outdoors,
Had the nerve to lay a match-box on my clothes,
I didn't have so many, but I had a long, long ways to go!
Some men like me 'cause I'm happy, some 'cause I'm snappy,
Some call me honey, others think I've got money,
Some tell me, "Baby, you're built for speed,"
Now, if you put that all together, makes me everything a good man needs!
Billie Holyday
A causa da desgraça é simples, um desgosto amoroso e a noção do objecto que é para os homens. É decerto razão para uma perspectiva deprimida da vida mas dada a natureza da contingência da situação, embora seja algo com que nós, de vez em quando nos identificamos, não é algom que reconheçamos como condição essencial de todos nós. Nem algo que queiramos viver. O blues é uma espécie de expiação de pequenos fantasmas e pequenos pecados. O blues tem um espirito cool que responde às vicissitudes contingentes da vida com o contingente sorriso de uma malha em Ré em 12 compassos.
Em alternativa comparativa podemos ver a diferença neste fado da nossa própria diva, Amália Rodrigues e cujo conteúdo ultrapassa a simples contingência acima descrita:
QUE DEUS ME PERDOE
Letra: Silva Tavares
Musica: Frederico Valério
Se a minha alma fechada
Se pudesse mostrar,
E o que eu sofro calada
Se pudesse contar,
Toda a gente veria
Quanto sou desgraçada
Quanto finjo alegria
Quanto choro a cantar...
Que Deus me perdoe
Se é crime ou pecado
Mas eu sou assim
E fugindo ao fado,
Fugia de mim.
Cantando dou brado
E nada me dói
Se é pois um pecado
Ter amor ao fado
Que Deus me perdoe.
Quanto canto não penso
No que a vida é de má,
Nem sequer me pertenço,
Nem o mal se me dá.
Chego a querer a verdade
E a sonhar - sonho imenso -
Que tudo é felicidade
E tristeza não há.
Amália Rodrigues
A assunção da própria condição, de cujo o fado é uma fuga consciente, tão consciente que o próprio fado cantado é sobre essa condição, não se reduz a um acontecimento que tanto poderia ter acontecido como não mas que é reflexo de um sentimento que se sente, passe o pleonasmo, necessariamente em todos os que o ouvem. A frase "Fugindo do fado fugia de mim" é a descrição mais perfeita o sentimento português de destino certo, de um destino que não se pode evitar, um destino que é acompanhado pela noção de saudade que mais não é que a consciencia, dada numa co-apresentação com o vazio do quotidiano, que a felicidade ficou lá atrás e que dela temos apenas o caminho, nem que esse caminho só leve à inevitabilidade do fim que a todos nos é destinado. Esse tal sentimento que as instituições vulgam em chamar depressão não é mais do que a condição de ser português.
A depressão de que falam existe só e apenas porque é fabricada por um quotidiano artificialmente afastado dessa consciência. Um quotidiano cuja desgraça é rapidamente desviada para soluções imediatas e fáceis que vão da mais básica telenovela até ao institucional Prozac. Logo, não admira que nos telejornais apareçam agora essas reportagens em modo de alarme que o português anda deprimido. Somos subrepticiamente conduzidos para um suposto alívio que nos é filantropicamente oferecido pelas televisões e pela industria do entretenimento. Somos bombardeados com horas e horas de processo casa pia para depois, logo a seguir, termos mais um episódio das novelas da TVI, em jeito de analgésico para a alma. As imagens de acidentes, doenças e miséria são intercaladas com anúncios a concertos no Emanuel e seu rebento Mikael (Mikael??? foda-se...) no coliseu e com imagens da loiríssima e cor-de-rosíssima Margarida Rebelo Pinto a anúnciar o seu último romence-pop. Todo este processo é perfeitamente natural e justificado com pretensões de serviço público pelos seus promotores com a velha desculpa de sempre. "As pessoas chegam a casa e depois de verem as desgraças só se querem é distraír. Nós damos o que as pessoas querem ver" Finalmente são as próprias reportagens sobre a depressão que dão a ideia uqe a única solução possível a a ida ao farmacêutico de serviço à procura do genérico de anti-depressivos mais barato.
Em última análise a suposta depressão que assola o Portugal de hoje é fruto de uma espécie de círculo vicioso de causa-efeito do qual não nos conseguímos libertar porque passámos de um "Fugindo ao Fado, fugia de mim" para uma fuga que se desenha nos contornos quotidianos do "Desgraça, depressão, cura" seja ela uma novela, um jogo de futebol ou uma dose de fluoxetina.
Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado
mas é isso que nós somos.
Bem hajam
sábado, 19 de julho de 2008
Glândulas lácteas (mais um post sobre mamas)
Muitos desses sites têm um blog embutido onde partilho lá o que escrevo aqui e vice versa.
Num desses sites, o Netlog, existe uma ferramenta de destaque onde os utilizadores colocam em destaque os seus items, seja um a foto nova ou um blogue, o que leva a uma interactividade mais profícua, fazendo com que o público leitor, embora fechado num círculo mais restritoo do site, seja mais abrangente do que aqui, pois consigo ter leitores mais imediatos.
Nesses blogues, de cada vez que tento lançar à discussão algo de edificante, cultural, pedagógico, que fomente a saudável troca de experiências de melomania, leitura, cinefilia ou artes em geral, tenho um, dois comentários, pouco mais e metade deles não interessam ao menino Jesus, de idiotas, fracas tentativas de fazer piada ou banalidades que são.
Por outro lado, se me armo em terrorista ontológico, espeto uma faquinha nas costas incautas d@s labreg@s, tento desconstruir um pressuposto ou simplesmento falo mal de algo ou escrevo "Mamas" ou "F*da-se", não me largam o cu durante 3 dias seguidos, lançam-me vitupérios odiosos, bloqueiam-me o perfil. Por isso, resolvi picar o putedo exibicionista com este post.
Há uma coisa que me faz impressão. Não consigo perceber a estrutura mental do acto de uma gaja colocar em destaque uma foto dela em sutiã a mostrar as costas quase desnudadas ou então uma foto em cuecas e saltos altos. E todos os dias no destaque aparece uma foto assim.
O que se pretende? Posar para concorrer ao próximo lugar de modelo de lingerie da Victoria's secret? Estão à espera qe por aqui passe algum booker que as leve para Londres?
Reality check: Com essas banhas não passas da mata de Monsanto!!!
Adiante:
Essas meninas (que algumas exibem de facto belos exemplares dos apêndices lácteos), então, se metem a foto em destaque é para ser vista, muitas vezes para ser vista apenas por homens, pois bloqueiam o perfil a mulheres. Por outro lado, se abrem a foto para comentários, então, de que tipo de comentários estão à espera? Os comentários dos labregos daqui roçam abaixo da banalidade tediosa:
"És linda", "Deixasme sem folego", etc, ou então aqueles poemas em brasileiro tirados dos sites de layouts do myspace.
Ora eu não comento poque a única coisa que me apraz dizer a um decote propositadamente exagerado ou a uma foto com um sutiã generosamente preenchido é um simples
"Granda par de mamas c*aralho, essa m*rda é toda tua??".
Mas como as meninas que começam por despudoradamente a exibir os seus (únicos) trunfos, de repente são umas Virgens Marias que normalmente, a acompanhar as fotos dos perfis, colocam pérolas do género "Detesto falsidades" "Gostoi de homens sérios e inteligentes" (convém é que não sejam mais inteligentes do que elas) "Não estou aqui para o engate". etc, etc. de repente ofendem-se com a honestidade.
Ora, nem sequer tento encetar nenhum tipo de conversação nessasa fotos porque o bloqueio era destino certo e eu quero continuar a apreciar silenciosamente os magníficos exemplares que aqui se exibem. No entanto aqui ficaria um diálogo imaginário com um desses par de mamas:
Eu:
"Grandas mamas, essa merda é para provocar? e depois puxava para o lado macho alfa e rematava com um anmimalesco "arrancava-te o sutiã e fazia-te suar pelas curvinhas abaixo"
Ao que ela responderia:
"Os homens são todos umas bestas"
Eu:
"Então se quiseres podemos ter uma conversa acerca do pós modernismo literário na alemanha de leste contigo só de sutiã transparente, mas como não deves conseguir articular um verbo com um complemento directo sem assassinar a sintaxe, lá teremos de voltar á conversa do suor..
Não?
e a seguir era bloqueado.
No dia em que uma gaja me disser:
"Sim, tenho um par de mamas magnífico e venho para aqui assumidamente exibi-lo e podes ficar para aí a babar-te à vontade" então e agradeço e ficarei a pensar:
"Eis uma gaja com tomates" em todos os sentidos.
Bem hajam.
P.S. O post original e respectivos comentários estão aqui: http://pt.facebox.com/spiegelman/blog/blogid=1384573
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Melomania
melomania | s. f.
do Gr. mélos, melodia + manía, loucura
s. f., paixão pela música.
Ora posso afirmar sem reservas que esta semana tive dos meus dias mais profícuos enquanto melómano, adorador, consumidor, ouvinte, apaixonado, louco pela música. Em 16 anos de concertos, festivais e afins asseguro que nunca tive tantos concertos proveitosos como nestes últimos dias. A todos os que comigo partilharam o recintos dos festivais SuperBock SuperRock e Alive 08 saberão do que falo
48 horas sempre a abrir de música intensa, concertos poderosos e intimistas que deixam o corpo cansado e a alma limpa. Nenhum deles foi o concerto da minha vida (esse fica reservado para o longínquo ano de 1993 com mais 60.000 almas no estádio José de Alvalade na tour europeia do Black Album de Metallica), mas no conjunto fazem os melhores 5 concertos a que já assisti em menos tempo.
A alma metálica e a sua irmandade inseparável encheu-se com o pedal duplo de Dave Lombardo que me deu o miminho fofo de encerrar a sua actuação demolidora com
ANGEL OF DEATH de SLAYER:
apenas meia hora depois cumpri a longa promessa de ver finalmente os Iron Maiden com Bruce Dickinson e Adrian Smith. Mijei as cuequinhas de felicidade com uma das minhas músicas favoritas de sempre: MOONCHILD de IRON MAIDEN:
Não tinham passado 24 horas e o sensual bigode alucinado de Eugene Hütz fazia estragos no palco do Alive '08 em Algés com os seus GOGOL BORDELLO:
E para terminar o regresso de RAGE AGAINST THE MACHINE após 14 anos a terra lusitasnas, Tom MOrello e Zack de La Rocha de novo Juntos em Palco a mandar foder os que nos mandam fazer coisas que não queremos:
FUCK YOU I WON'T DO WHAT YOU TELL ME!!!
Finalmente, já em casa, ao acordar e para descomprimir, em directo do mesmo sítio onde tinha andado ao ssaltos na noite anterior, estava JHON BUTTLER TRIO a dar um magnífico concerto...
6 magnificos concertos que ainda me correm no sangue
Obrigado a todos os que comigo os partilharam
terça-feira, 8 de julho de 2008
URBAN LEGENDS - Os Grandes Mitos Nacionais: D. Sebastião
No entanto basta olhar para o mapa da densidade populacional de de Portugal e ver que metade da população vive nas áreas metropolitanas do grande Porto e da grande Lisboa e a outra metade se distribui dois terços por Braga, Coimbra, Aveiro, Setúbal e Algarve sendo que o último terço é que resiste estoicamente num interior rural envelhecido, esquecido e desertificado. Conseguimos perceber então que, juntamente com as pessoas que o carregam no imaginário, o mito de D. Sebastião é, estatisticamente, um mito urbano. Chegado o Outono, a época das chuvas, das depressões, das melancolias regressa ao nosso subconsciente de Português, no sentido mais pessoano do adjectivo, o secreto desejo de, numa manhã de nevoeiro, aparecer envolto em bruma a figura de D. Sebastião montada no seu cavalo branco, de regresso da batalha de Alcácer Quibir e trazendo consigo a boa nova do Quinto Império e a glória a um povo que já soube o que foi governar metade do mundo e agora está refém de ministros "jamais" (com pronúncia francesa) e primeiros ministros que compram licenciaturas a. troco de casas de emigras em Mafamude (ou o c*ralho que o f*da)..
Ou então não.
Muitas vezes esquecemos, enebriados pela magia do mito e de todo o mistério e poesia que a ideia do retorno de um glorioso rei antigo acarreta, que D. Sebastião era um puto ruivo de 14 anos com metro e meio de altura e com uma deficiência no lábio quando foi coroado rei à pressa porque o pai morreu-lhe quando nasceu.
Em segundo lugar, esquecemo-nos de indagar, se D. Sebastião voltasse hoje, onde apareceria?
Tendo em conta que foi para África numa senda tresloucada anti-islâmica, imaginemos que D. Sebastião aparecia numa manhã de nevoeiro ali para os lados do Martim Moniz. De repente, vindo do nada, aparecia um gajo de armadura a cavalo com uma espada na mão a berrar "Venham cá, filhos da puta que vos acabo com a raça infiel!!" e desatava a varrer à espadeirada todos os indianos, muçulmanos e demais africanos que param pela conhecida praça lisboeta.
Talvez consiga imaginar um monhé a aproximar-se de D. Sebastião com um ramo de rosas e um molho de Pikachús a piscar: "Olá... Quér frô?", ao que D. Sebastião responderia com um pronto golpe de espada e arrancava a cabeça ao pobre Rashid, acabando a cena como está exposta na Catedral de Santiago de Compostela, na Galiza, onde uma escultura retrata S. Tiago em pose triunfal no seu caval a espezinhar corpos retalhados de muçulmanos.
E depois era uma chatice, tinha que vir o Serviço de Intervenção Rápida da PSP, a Judiciária, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras ( Sim, para além de D. Sebastião que entrou ilegal com um cavalo no país ainda temos que fazer um levantamento dos mortos para saber quantos estavam legalizados ) e levar o D. Sebastião para a esquadra - isso é lá maneira de tratar um salvador da pátria - onde, se não o confundissem com um filho há muito perdido do Jorge Sampaio, decerto seria recrutado pela CIA para ser mandado para o Afeganistão achar o Bin Laden.
Resta-nos fazer como os Judeus e ir batendo com a cabeça nas paredes do nosso muro das lamentações ( para a maioria de nós é o Novo Estádio da Luz ) à espera que apareça para aí um novo messias, dos que não retalhem pessoas ou que não convoquem Luís Filipe para lateral direito.
Bem hajam...
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Mitos Urbanos: Betos e friques
URBAN LEGENDS: Os clichés, parte I:
As lendas urbanas que que aqui denomino são as sub-culturas e os rótulos em que a sociedade portuguesa se divide.
Eis os que, por serem considerados um arquétipo normativo, se enquadram no conceito de verdadeiras lendas urbanas.
O Beto:
O beto é uma denominação que foi criada no princípio dos anos 90 aquando do boom da marca benetton para denominar os que a vestiam. Eram os chamados meninos bonitos, limpinhos e correctos que pululavam amiudemente pelas escolas secundárias das cidades e sub-urbes. Depressa se generalizou ultrapassando a marca única quando o beto foi para a universidade. A denominação beto foi sendo substituida por Menino da Linha ou Menino da Católica pois começou-se a notar um aumento da espécie na linha de Cascais e na Universidade Católica. Os estudos são inconclusivos ao tentarem decidir se não é a própria universidade que os cria. Os betos quase que atinjem o estatuto de lenda pela sua capacidade de se clonarem a si próprios. Não há um beto diferente um do doutro. É vê-los na paragem em frente à Universidade Católica com as camisas Ralph Lauren, os cabelos semi-compridos aloirados e os polos Burberrys e as gajas com as madeixas loiras e argolas enormes nas orelhas. Uma investigação secreta em curso tenta descobrir se qualquer anomalia física, química ou metafísica ao redor da Universidade Católica faz com que hajam alterações genéticas ao nível dos seus alunos para que se pareçam todos com os putos daquele filme do John Carpenter, "A Cidade dos Malditos". Quando digo que o beto quase que atinje o estatuto de lenda urbana é porque o seu status estético-moral de direita conservadora depressa se esvanece quando a beta se apaixona por um cabo-verdeano de rasta com 1m95cm e uma picha de 25 cm e a a enraba, conservadoramente, enquanto lhe agarra pelas argolas e o beto vai de erasmos para a Holanda onde encontra uma frique alemã com pêlos nos sovacos, uma tatuagem do Che Guevara na mama esquerda e sandálias de cabedal que lhe faz um broche enquanto sopra o fumo de uma White Widow acabada de fumar para os colhões. O beto normalmente morre com os cornos cheios de coca e com o Z8 do papá enfiado num poste na marginal em Carcavelos.
Falando em friques: O Frique:
O frique ( aportuguesamento livre de freak ) elevou-se ao estatuto de lenda urbana pela capacidade única que tem em não se lavar. O frique generalizou-se pela rua. É normalmente um beto arrependido cheio da pasta que se zanga com os papás e vai à procura do sentido da vida para as estações de metro. Há uns friques que conseguem ir para a universidade e quando assim é as academias do nosso país enchem-se de pulgas. Isto porque um frique não é frique sem um rafeiro com sarna atrás. Mais uma prova de amor aos animais a juntar ao facto de serem todos vegetarianos. De tal modo que, há estudos que indicam, embora não confirmem, que as mulheres friques abdicaram de todo o tipo de chouriço, incluindo o chouriço do companheiro, e que deixam entrever que a familiaridade com os cães ultrapassa a simples interactividade Homem-animal e que as línguas dos bichos possam servir para mais do que lamber as próprias feridas. O estatuto de lenda confirma-se pelo facto de num círculo de friques ( dos verdadeiros friques ) não se aproximar mais ninguém, ou então é do cheiro... Finalmente um dos maiores mistérios é a questão de ainda não se terem encontrado cadáveres de friques. Acredita-se que vão todos morrer ao mesmo sítio. Por outro lado especula-se que o desaparecimento dos friques a partir de uma certa altura esteja ligado ao aparecimento de novos gestores, economistas e advogados neo-conservadores que estão a dominar a economia mundial. Personagens das quais antes não havia nenhum vestígio...
Próxima lenda urbana... Dom Sebastião...
terça-feira, 1 de julho de 2008
O Medo
É assim meus amigos. Há 27 anos que vivo neste cu de Judas a que chamam Margem Sul. O antro mais eclético que, numa curva que vai do fétido ao divino, podemos encontrar em Portugal. A Margem Sul é a sub-urbe por excelência. De tal sorte que se tornou mais do que uma sub-urbe, tornou-se a Margem Sul. Nasci no buraco mais poluído que se pode encontrar na cinta industrial nacional. No Barreiro, ladeado pela Quimigal e pela Siderurgia Nacional, vim ao mundo entre uma nuvem de pesticida e outra de faúlhas de limalha de ferro fundido que se soltavam dos altos fornos de Paio Pires. Não fiquei lá por muito tempo e o meu cú veio parar directamente à Amora.
Uma rápida viagem do refúgio de alentejanos perdidos do pós 25 de Abril até à última colónia genética de Fenícios comerciantes, que fariam corar de vergonha qualquer judeu, fez que o meu coiro voasse de um Barreiro industrial para um Seixal pescador onde o sangue fenício perdia a luta pela sobrevivência face a uma nova colonização pelo Império Romano que era agora perpetrada pelos genes remanescentes em alentejanos vindos das terras de Miróbriga, um pouco mais a sul em Santiago do Cacém. Alentejanos esses que, incluindo a minha família, aportavam agora na pacífica vila de Amora.
Considerando-me um orgulhoso descendente do último posto romano da Peninsula Ibérica sentia-me na obrigação de zelar para que uma pax romana se instalasse a sul do Tejo. Com as colónias fenícias arredadas para um pequeno número de resistentes insuspeitos a tarefa adivinhava-se fácil. Mas na margem sul não paravam só alentejanos perdidos. Na mesma altura e no pós 25 de Abril começaram a chegar à Margem Sul ex-colonos, pretos, ciganos e um ou outro bárbaro do norte. A luta pela supremacia na Margem Sul revelar-se-ia mais difícil que o previsto. Embora os alentejanos fossem em número superior era nas ruas que a batalha se travava. Não raras as vezes que na minha infância me descobri à porrada com pretos, ciganos e outros descendentes de alentejanos.
Já fugi de magotes de pretos, já me esquivei de famílias de ciganos e aprendi a afugentar o medo o suficiente para que ele não me dominasse. Mesmo quando depois a meio da década de 80 outro problema assustador dominou a Amora, o da droga, com muitos toxicodependentes a tomarem de assalto algumas zonas, aprendi a não ter medo das seringas, a não ter medo dos caronchos, farrapos humanos inofensívos que mais tarde ou mais cedo quinavam de overdose. Nestes anos todos de Margem Sul aprendi a não ter medo. Aprendi a não ter medo da poluição, dos pretos nem dos ciganos nem dos assaltos nem dos tiroteios nem da droga. E em 27 anos de vida nunca tive medo, até ontem.
Ontem provei o medo meus amigos. Provei o medo como nunca imaginaria que pudesse provar. À meia noite e meia dentro do metro da linha azul para a Baixa-Chiado eu conheci o medo. Entrei insuspeito para a carruagem do metro com os phones nos ouvidos, pois evito ao máximo ouvir as conversas das pessoas, e encostei-me à porta em pé. Num relance de curiosidade pela carruagem quase vazia quis ver quem ali ia àquela hora. Vejo um sorriso branco, enorme, desmesurado, com uns dentes antinaturalmente brancos, e uma cara lavadinha, quase imberbe, que se fazia acompanhar de um riso sinistro. Tremi um pouco e ao olhar com mais atenção choquei de frente com o horror... Era um beto!!!
Não havia que enganar. Tinha um polo às riscas da Burberry's, umas calças de ganga euns sapatos castanhos de vela!!! Meu Deus, onde me vim meter? O cabelo semi comprido a cair sobre os olhos dava o golpe final. Mas o medo só despertou quando vi que não era só um... Nem dois, eram quatro!!! Todos de igual, todos de polo às riscas, todos com o cabelo sobre os olhos, todos de óculos quadrados apaneleirados. Todos... Excepto um que não tinha óculos nem o cabelo semi-comprido, imagino que fosse um acólito ou um aprendiz. Notei que o polo era só azul mas estava também a rir como os outros, daquela maneira comedida, educada, limpimha. E aí tive medo. Começei-me a sentir hipnotizado e quando já estava prestes a dirigir-me a eles com a frase "Oiça lá Bernardo, adoro o seu polo, onde o comprou?", e notava o meu cabelo a ficar mais curto e a cair-me para os olhos e os meus sapatos a transformarem-se nuns de vela olhei para o fundo da carruagem e vi um preto... Um preto e uma preta...."Estou salvo!!!" pensei. Mas, horror dos horrores, ao pé da preta estava mais um, mais dois, que responderam com um virar de cabeça ao riso educado dos outros quatro. Seis, eram seis de polo às riscas, sapatos vela, cabelo a cair para os olhos eóculos apaneleirados. "Eles clonam-se, clonam-se expontaneamente!!! Vamos todos morrer, ou sofrer alterações genéticas..." Mas a salvação chegou finalmente quando cheguei à Baixa Chiado e virei para o Cais do Sodré e eles foram para a linha Verde, de certeza para a Av. de Roma. Lá consegui acalmar quando cheguei ao barco e lá estava um magote de pretos a roubar umas míudas, um bando de heavy-mecas gadelhudos a curtir a bebedeira e dois agarraditos a coçarem a ressaca junto às portas de saída.
"Em casa finalmente..."
Bem hajam....
sexta-feira, 27 de junho de 2008
DAN BROWN: Ou como prefiro fazer uma desvitalização a frio
Daí que a licenciatura em Filosofia e a pós graduação em edição de texto tenham sido consequências naturais deste desejo de ler. Só que uma tensão patológica para a leitura não significa que se leia tudo. O espírito crítico da formação académica levou a que certos filtros se formassem. A leitura de entretenimento deixo-a para os jornais e revistas. Sou, por exemplo, um ávido leitor do Record, não perco uma ida à casa de banho sem ler a Dica da Semana ou o Correio da Manhã. Quando me ponho a ler livros (o objecto encadernado) gosto de ler livros de ensaio e Filosofia ou Literatura e Ficção que façam do acto de ler um acto que valha a pena. Já li de tudo um pouco e ainda me falta muito para ler mas há simplesmente uma coisa que nunca me dei ao trabalho de ler, por antever o acto inútil que seria: a chamada literatura page turner que actualmente se edita, que teve a sua maior expressão na obra de Dan Brown.
A temática de Dan Brown aborrece-me e o facto de determinado autor ser rotulado de polémico não faz desse autor algo que valha a pena ler. Principalmente quando essa polémica parte de premissas presas unicamente ao marketing. Dan Brown por isso esteve sempre apenas nos horizontes das notícias e nunca nos meus horizontes de leitura. Exerço aqui o meu livro arbítrio. Estou-me nas tintas para o Dan Brown.
Não obstante o anterior, e rendido à velha máxima do "não fales mal daquilo que não conheces", embora de uma forma ou outra eu já o conheça, resolvi atender o desafio de um velho amigo, posto à volta de um prato de salsichas com couve lombarda e um jarro de vinho tinto, e ler um livro do dito autor. Argumento: "O tipo não pretende nada, escreve page turners, é um livro de acção, aquilo lê-se bem etc."
Ok. Tendo já visto o filme do "Código Da Vinci" resolvi pegar na sua obra anterior "Anjos e Demónios" e pus-me ao caminho das letras. A viagem durou três dias...
Mais valia estar quieto. Dan Brown é um autor intelectualmente desonesto, plagia-se a si próprio, padece de um chauvinismo da língua inglesa absolutamente insuportável, tem a imaginação narrativa de uma mosca e pressupõe a completa ignorância do leitor relativamente aos assuntos
Numa expressão, Dan Brown escreve livros como os feirantes montam viagens em comboios fantasma. A viagem é curta, barulhenta e com o mínimo de emoção. Com um pouco mais de atenção conseguimos ver as cordas e os mecanismos que accionam as marionetas e os monstros. A surpresa e o prazer acabam ao fim de cinco minutos só que a viagem continua. Lá para o fim pode aparecer um monstro que não estávamos à espera mas basicamente já sabemos como é que o mecanismo funciona. É só mais um. A viagem acaba e ficamos com a sensação… Acabei de perder 5 euros em 5 minutos.
Três vezes não. Para brainless entretainment prefiro cinema, com tiros. O acto de ler deve ser o de estar concentrado, de lutar com o autor, com as suas personagens, de se entretecer nas suas vidas e contra ou co-argumentar com o que vai sendo dito e de se perder nas paisagens, nos acontecimentos e nas narrativas. Nos livros de Dan Brown os argumentos são despedaçados à 2ª página com um simples “És um idiota”, os personagens desaparecem no ar como gases e as descrições dos sítios são como os guias turísticos que se compram na Rua Augusta.
You got PWNED.
quinta-feira, 26 de junho de 2008
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Prisões abrem a sexo gay
Num rápido news clipping (calão profissional) à procura de assuntos para o blogue (como vêm escrevo por catadupas antes de secar mais duas semanas sem nada) deparo-me com este destaque do Pasquim Digital "Portugal Diário":
CM: «Prisões abrem a sexo gay»
Os reclusos homossexuais vão passar a beneficiar de visitas íntimas nas prisões para relacionamento sexual com os respectivos companheiros
http://diario.iol.pt/sociedade/quiosque-imprensa-c- orreio-da-manha-revista-de-imprensa-noticias-jorna- l/964373-4071.html
Assim, sem mais...Escarrapachado nas primeiras páginas do Correio da Manhã de hoje. A notícia refere-se a decisão do governo de poder vir a permitir visitas conjugais para reclusos homosexuais, à semelhança de uma prisão mexicana onde um recluso rabicholas se sentiu descriminado pelos labregos heterossexuais por estes receberem as suas respectivas para darem o pirafo da praxe. Eufemisticamente, "Visitas Conjugais"
Ora como agora ser gay está na moda e os homossexuais, como também são pessoas, têm direito aos mesmo direitos que os labregos heterossexuais.
Ora se os labregos machos têm direito a esvaziar o tomatito com as suas mais que tudo (ou com as suas mais baratas encontradas ali na estrada de Coina) porque é que o nosso reclçuso Gay não há de receber também a visita do seu mais que tudo?
Mas estas visitas tem um problema, pois todos nós já ouvimos falar das histórias das prisões e sabonetes. Provavelmente uma visita conjugal homossexual masculina redundaria no seguinte fracasso:
"Olá Zé Eduardo, tiveste saudades minhas?
"Olá meu querido Augusto... Sim..."
"Tás com um ar estranho Zé Eduardo, o que se passa? Tens comido bem na prisão? Tratam-te bem? Estás bem encarado mas... estás com uma expressão estranha... O que foi?"
"Nada Augusto... Não se passa nada... Aparaste o bigode? Gostava mais quando me picava..."
"Não desvies a conversa Zé Eduardo... O que é que se passa. O que é que não me queres contar... Pera lá... Isso são nódos negras nos braços? Parecem-me marcas de dedos dedos..."
"Bati com o braço numa mesa, nada de especial..."
"Bateste o car*lho Zé Eduardo, isso é um agarrão... O que tu bateste foi com os joelhos no chão nos balneários Zé Eduardo!! É Isso?, Andas-me a pôr os cornos no chuveiro? Andas a apanhar sabonetes a torto e a direito para os outros é? Sua oferecida... Sua P*ta... Eu aqui, cá fora, sem ti, a ter que passar os dias sozinho cheio de saudades e tu a pavoneares o rabo no meio de um balneário cheio de homens nus... Porca!
"Mas Augusto, um homem não é de ferro...."
Eeee, fiquem-se com esta parvoíce que com 31º às 10 da manhã não dá para mais.
Boa sexta feira
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Zezé Camarinha e o Bicho Fêmea Nacional
O último dos machos latinos, Zezé Camarinha, vai lançar um livro acerca das suas aventuras sexuais para assinalar a sua reforma. Algarvio de gema, passou os últimos 40 anos a sacar mais gajas que tampas de sanita, embora 99%delas tenham sido estrangeiras. Convenhamos que o feito acaba por não ser muito impressionante. Se vermos bem, a coisa mais fácil de sacar é uma sueca acalorada que passa 11 meses cheia de roupa num inverno eterno e vem laurear a pevide e arejar os mamilos para o Sol Algarvio. O esforço é mínimo. A expressão de ataque "Better put some cream" é no fundo uma frase feita para ilustrar um produto de abertura fácil. A uma sueca de férias no Algarve bastam duas caipirinhas e pôr-lhe a mão nas costas num bar e 10 minutos depois estão no quarto de hotel. Não há segredo nenhum nisto. Desde que o Algarve é Algarve que as nórdicas não vêm cá para mais nada... Vêm para cá foder... Perdoem-me o vernáculo
Por isso o feito do Zézé Camarinha não é nada de especial. É o mesmo feito de qualquer Algarvio que se preze e o próprio admite que a concorrência é grande. A questão aqui é meramente quantitativa. Zézé saca gajas como quem pesca com granadas... assim também eu... Olha que foda-se...
Brilhante feito seria se o Zézé conseguisse sacar mulherio em mesmo número mas só produto nacional. Só que o bicho gaja português é muito mais complexo... E o Zézé é só um Algarvio de bigode que falsificava whisky em casa para ganhar trocos. Não é um físico nuclear. Portanto, esquemas complexos para apanhar presas da estirpe nacional são logo postos de parte.
Pescar com granadas no charco fechado cheio de berbigão amorfo e disponível de perna aberta que são as praias de Albufeira é bastante mais simples...
Porque é que o bicho gaja nacional é muito mais complexo relativamente à sua disponibilidade sexual não sei (embora eu comece a desenvolver a teoria que a complexidade vai desaparecendo na proporcionalidade inversa do aumento da idade e do grau de divórcio - mas isso são outras contas).
Deixo no entanto aqui estas duas notas para reflexão.
A maioria das estrangeiras (essencialmente nórdicas) que são o alvo do Zézé são mulheres de sucesso, com estudos, dinheiro e com uma educação mais liberal. Muitas são empresárias e independentes (que no reverso da medalha são elas as predadoras e o pobre do Zézé apenas mais uma presa de bigode e pacotes de Viagra). Sabem muito bem o que querem e não dependem de subterfúgios estéticos ou emocionais para conquistarem os seus homens. Daí que o impacto de campanhas promocionais dirigidas ao público feminino tenha muito mais impacto neste canto arrumado à beira mar do que no norte da Europa.
A mulher portuguesa sofre no fundo do mesmo problema de desígnio nacional. Uma enorme falta de auto-estima e da eterna espera pelo Principe Encantado (cujo equivalente no Desígnio Nacional é o regresso de Dom Sebastião e nos homens é a eterna espera por um treinador que salve o Benfica.) Por isso consomem produtos de cosmética como os alcoólicos consomem vinho carrascão.
Por isso é que quando abro um site como o http://mulher.sapo.pt os principais destaques são os seguintes: Tratamentos anti-celulite, Truques de imagem, Cirurgia Laser: Máquina da Juventude etc (ok, tem lá um artigo sobre o cancro da mama... um só...) Há depois o típico consultório...
Enfim, será o exemplo cliché do tipo de mulher portuguesa que lê a notícia sobre o Zézé Camarinha e faz o seguinte comentário:
Se Zézé Camarinha gostava mais das estrangeiras então ainda bem que sou Portuguesa!Homens como ele não me interessam muito!
Esta provavelmente, como acha que o Zezé (que é apenas um fodilhão inofensivo que no fundo é caçado em vez de caçar) não lhe interessa, vai a sites como o da mulher.sapo.pt ou a revistas como a Mulher Moderna ou Maria (e similares), saber como há de arranjar um qualquer esquema estético-emocional extremamente complexo para conseguir conquistar o seu Principe Encantado... Principe encantado esse que se há-de revelar um bêbedo inútil e preguiçoso. Ela continuará à espera do Principe Encantado, a borrar-se como uma prostituta barata e a fazer testes imbecis nas revistas cor-de rosa para arranjar mais um esquema complexo para conquistar outro bêbedo inútil.
Um exemplo prático do que acabei de dizer é outro dos fodilhões históricos do nosso Portugal. O Capitão Roby. Ora o Capitão Roby não sacou tanta rata quanto o Zezé, mas sacou um número considerável de mulheres portuguesas. Como o conseguiu? Transformou-se no Principe encantado que as mulheres portuguesas estão eternamente à espera. Mas enganou-as, mentiu-lhes, fez-se passar por quem não é... E depois foi o que se viu
Ora o nosso Zezé só quer foder. e as suecas percebem isso... As tangas que conta fazem parte do filme que é percebido imediatamente pela mulher nórdica.. (A excepção confirmará a regra)
Acredito que são ambos muitos mais felizes que muito exemplar do bicho fêmea nacional que diz que "O Zezé não é homem para mim." Cada um tem o que merece... Digo eu...
quarta-feira, 11 de junho de 2008
A Crise dos combustíveis e a bola
Por outro lado, se Portugal ganhar aos Checos o apuramento fica garantido e a festa popular é certa...
Será vê-los às voltas com o carro a buzinar indiscriminadamente pelo Marquês de Pombal, a torrar a gasolina que passaram duas horas à espera para atestar ...
"Ai Portugal Portugal... o que é que estás à espera, tens um pé numa galera, e outro no fundo do mar"
Já dizia o outro, que para além de ser um bom poeta e músico, como bom português, também era um bêbedo inveterado.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
terça-feira, 27 de maio de 2008
A Cosmologia do Metal (évimecas p'ós amigos)
Sou um évimécas. Daqueles ainda com cabelo comprido que vai para concertos de Testament abanar a gadelha e beber cerveja. Mas sou também um músico e um ouvinte eclético de outras variedades musicais. O que para parte da comunidade metálica é considerado uma blasfémia.
Como bom évimecas que sou ando por fóruns me metal e nos foruns de metal discute-se évimétal, em todas as suas formas. Como em todo o lado - mas exacerbado a contornos quase religiosos dado o contexto barroco e muito específico do heavy metal - há gostos e opiniões muito diferentes acerca do que é o Heavy Metal, do como deve ser tocado e ouvido. Discussões que muitas vezes ganham contornos violentos e ofensivos que se extremam em duas posições. De um lado o TRVE METAL, fãs intrasigentes que defendem que o metal morreu em 89 e ainda usam casacos de ganga sem mangas e patches de Destruction e Tankard. Do outro lado residem os míudos de 15 anos k axam que o metal é uma xena fixe e kurtem bué de Korn de Evanescence e extão bué kontentes de ir ver ox Metallica ao Rock In Rio e depois quando lhes digo que vou é ver é Iron Maiden, acham que Maiden "é bué pesado não é?" (e aqui tenho um princípio de aneurisma). Há depois o pessoal do Black Metal. Mas esses são um caso à parte e têm o bom senso de não entrar na discussão e de se manifestarem apenas quando alguém diz que Cradle of Filth são uma boa banda de Black Metal. (Tenho um tipo com corpse paint e pulseiras de picos atrás de mim pronto a rachar-me a cabeça com um machado viking).
A discussão gira normalmente em torno da evolução do estilo e de como a mistura e a introdução de elementos fora do metal clássico para uns veio desvirtuar o som e para outros, melhorá-lo. (Os putos de 15 anos aqui não entram na discussão pois não sabem o significado de desvirtuar e acham estranho um estar um "S" a seguir a uma vogal, antes de uma consoante)
Se houvesse um pingo de bom senso entre as pessoas esta discussão não se aplicava. O problema é que antes de ouvirem metal as pessoas são pessoas. E bom senso é coisa que não existe entre as pessoas. Muito menos entre pessoal que vive ainda nos anos 80 e míudos de 15 anos. Adiante
Assim como qualquer forma de arte - e o metal como género musical é uma forma de arte - o metal é produto da mutável orgânica do ser humano, que já de si é a única espécie animal que se procura a si própria através de exteriorizações estéticas do tumulto que é essa procura do si. Exemplo: um cão para ser cão ladra e lambe os tomates. O homem para se executar a si próprio executa uma infinidade de tarefas, entre elas a arte, dentro da arte a música, dentro da música, o metal. Esta é, ou devia ser, a génese do metal que não foge à das outras obras de arte.
Mas o que falha a toda esta gente é não perceberem a verdadeira génese do Som Sagrado. Aqui fica ela, revelada numa epifânia que me surgiu entre a leitura do Correio da Manhã e a audição do "Armageddon Death Squad" dos Impaled Nazarene:
Quando os Deuses fizeram o Heavy Metal e viram que era bom, deram o metal ao Homem para que este usufruísse dele. Mas exigiram ao Homem que o homem não tocasse no fruto da árvore da diversidade. "Não misturarás estilos" Disseram os deuses. Mas como o bicho homem tem aquela mania parva de fazer o contrário do que os Deuses lhe mandam, (Adão, Prometeu, Ícaro, ninguém manda neles caralho!) não durou muito tempo que os homens que usavam o metal fossem ao fruto da árvore da criatividade e da diversidade:
"Ora bolas, então se se fez o mesmo com a pintura, escultura, outros estilos musicais, então porque não fazer o mesmo ao metal? Se os Deuses criaram o Metal para nós usarmos quem raio agora são os Deuses para nos dizer como o usar? Não o criassem, olha que foda-se... Estávamos tão bem com o Artur Garcia e o António Calvário..." Terá pensado um dos homens a quem foi oferecido o metal
Eis que então o metal passou a tomar muitas formas e os Deuses zangaram-se e excomungaram aqueles que ousaram blasfemar contra a bondade do metal. Os que permaneceram fiéis e imaculados puderam ficar no Paraíso do Metal Original. Desse dia do Pecado Original os restantes formaram diversas Babilónias do metal por todo o planeta, conspurcando o Som Sagrado. Há hoje muitos habitantes dessas Babilónias que acham que o Metal que ouvem nasceu delas e não conhecem a Verdade sobre o Metal.
Mas o Messias chegará um dia, para salvar a humanidade, e trará cuecas de cabedal.
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Deus a morrer de Tédio no Paraíso
Nos meus tempos saudosos, e fugazes também, de escriba e desenhista no DN jovem - dois trabalhos publicados, um verdadeiro portento criativo... - apreciava particularmente as banda desenhadas que alguns alucinados autores, em momentos de pura gastroentrite imaginativa, se lembravam de enviar para publicação. Ficou-me marcada uma história em particular acerca da criação do mundo. Esta cosmologia alternativa tinha como protagonista a inevitável dicotomia Deus/Satanás. Escuso de pormenorizar as referências intestinais desta cosmologia pois dando asas à imaginação é fácil concluir o que terá saído de 7 dias de prisão de ventre do senhor supremo do mal.
O blog de hoje não é no entanto acerca de nenhuma cosmologia.Embora não ande longe. Falemos antes de génese. Dessa história em BD o que retenho para o blog de hoje é a frase introdutória. O autor coloca as seguintes palavras do narrador a ilustrar no primeiro quadrado um Deus antropomórfico sentado com o cotovelo no joelho e com a mão a segurar a cabeça pendida:
"Estava Deus a morrer de tédio no Paraíso..."
Puro tédio, na sua asserção possibilitante mais pura. Considerando Deus na sua trilogia exclusiva de Omnipotência, Omnipresença e Omnisciência, Deus será também capaz de Tédio. É que, numa tentativa de compreensão da génese de algumas figuras a que, pela sua semelhança estética e comportamental básica - comer, dormir, andar, articular vocábulos - , se usam chamar de Humanos, esbarro por vezes com a parede do absurdo. É que, por mais radical que seja um movimento de fé, admitindo todas as acções de Deus com um sentido que só se acha através desse movimento, a nossa compreensão, finita e necessariamente limitada de seres mortais que somos, quimérica e patológica vontade de cabimentar sentido através de um nexo causal entranhado na nossa gramática do quotidiano, tende sempre a procurar uma razão das coisas. Para além da Fé. Assim sendo, dentro da horde de figuras que decoram o nosso quotidiano público há aquelas cuja origem só pode ter surgido de um movimento de Tédio divino...
Deus, não tinha mais nada para fazer, e decidiu, estando infinitamente aborrecido no seu Ser infinito, bafejar com a dádiva da vida, essas figuras.
É que não consigo perceber a existência de algumas, por agora chamemos-lhe assim, pessoas, a não ser como sub-produtos de um movimento de profundo aborrecimento divino.
Se quisermos desencantar uma tipificação para estas criaturas, algo pomposo, podemos chamar-lhes de Refugos do Tédio Divino. A termo meramente exemplificativo, vejamos o caso do grupo de pessoas, pois a génese não se aplica apenas a individuos mas também a conjuntos de individuos, admitindo as categorias aristotélicas, a que no nosso quotidiano português costumam denominar de dirigentes desportivos.
Que outro nexo causal conseguimos deduzir da existência de figuras como o Valentim Loureiro ou Luís Filipe Vieira - o Pinto da Costa é causa sui, não entra portanto nesta categoria - senão aquele que retorna ao motor primeiro do Tédio Divino? Deus, certamente motivado pela pasmaceira da eternidade, farto de ver o Homem a aniquilar-se por tudo e por nada, num puro movimento de despeito entediado, *paff* dá a Vida ao dirigente desportivo Dias da Cunha, que empregnado pelo absurdo existencial que é inerente à sua génese, se revela a triste figura que se arrastava nos diários desportivos e programas de comentários de futebol nas nossas televisões, surgindo de vez em quando à tona da água como aconteceu no programa da Fátima Campos Ferreira.
Mas o mesmo podíamos dizer de Reinaldo Teles, Pimenta Machado ou Hermínio. Mas estamos apenas na categoria dos dirigentes desportivos, que em si já são, enquanto conjunto, um produto de Tédio Divino. O mesmo aplicar-se-á a outras figuras e categorias. Temos muitos outros exemplos de existências bafejadas pelo aborrecimento de Deus... José Castelo Branco, Paulo Portas, Santana Lopes, Ribaus Esteves ou o saudoso Carlos Carvalhas - este fruto de um aborrecimento inofensivo - ou então a Filosofia Analítica ou as intervenções políticas dos dirigentes femininos do Bloco de Esquerda, etc, etc.
Por sua vez nem todo o movimento de Tédio é semelhante. Por vezes Deus está apenas ligeiramente aborrecido e ainda há um vislumbre de sentido na existência de um ou outro personagem, outras vezes o grau de Tédio é maior... Mas há vezes em que o Tédio é profundo... Extremamente profundo. Há figuras que só podem ter sido fruto de um movimento provocado por um Tédio tal que o absurdo da sua existência faz mossa no próprio Deus. Um momento de Tédio tal, uma redução a um nada tão absoluto, tão vindo das profundezas do Absurdo, que nem no momento da génese desse ser se conseguia vislumbrar o quão vazio de sentido se iria mostrar no auge da sua presença enquanto ser corporizado.
Hoje, mais do que nunca, eis a aberração exemplar do Refugo de Tédio Divino...