Sou um évimécas. Daqueles ainda com cabelo comprido que vai para concertos de Testament abanar a gadelha e beber cerveja. Mas sou também um músico e um ouvinte eclético de outras variedades musicais. O que para parte da comunidade metálica é considerado uma blasfémia.
Como bom évimecas que sou ando por fóruns me metal e nos foruns de metal discute-se évimétal, em todas as suas formas. Como em todo o lado - mas exacerbado a contornos quase religiosos dado o contexto barroco e muito específico do heavy metal - há gostos e opiniões muito diferentes acerca do que é o Heavy Metal, do como deve ser tocado e ouvido. Discussões que muitas vezes ganham contornos violentos e ofensivos que se extremam em duas posições. De um lado o TRVE METAL, fãs intrasigentes que defendem que o metal morreu em 89 e ainda usam casacos de ganga sem mangas e patches de Destruction e Tankard. Do outro lado residem os míudos de 15 anos k axam que o metal é uma xena fixe e kurtem bué de Korn de Evanescence e extão bué kontentes de ir ver ox Metallica ao Rock In Rio e depois quando lhes digo que vou é ver é Iron Maiden, acham que Maiden "é bué pesado não é?" (e aqui tenho um princípio de aneurisma). Há depois o pessoal do Black Metal. Mas esses são um caso à parte e têm o bom senso de não entrar na discussão e de se manifestarem apenas quando alguém diz que Cradle of Filth são uma boa banda de Black Metal. (Tenho um tipo com corpse paint e pulseiras de picos atrás de mim pronto a rachar-me a cabeça com um machado viking).
A discussão gira normalmente em torno da evolução do estilo e de como a mistura e a introdução de elementos fora do metal clássico para uns veio desvirtuar o som e para outros, melhorá-lo. (Os putos de 15 anos aqui não entram na discussão pois não sabem o significado de desvirtuar e acham estranho um estar um "S" a seguir a uma vogal, antes de uma consoante)
Se houvesse um pingo de bom senso entre as pessoas esta discussão não se aplicava. O problema é que antes de ouvirem metal as pessoas são pessoas. E bom senso é coisa que não existe entre as pessoas. Muito menos entre pessoal que vive ainda nos anos 80 e míudos de 15 anos. Adiante
Assim como qualquer forma de arte - e o metal como género musical é uma forma de arte - o metal é produto da mutável orgânica do ser humano, que já de si é a única espécie animal que se procura a si própria através de exteriorizações estéticas do tumulto que é essa procura do si. Exemplo: um cão para ser cão ladra e lambe os tomates. O homem para se executar a si próprio executa uma infinidade de tarefas, entre elas a arte, dentro da arte a música, dentro da música, o metal. Esta é, ou devia ser, a génese do metal que não foge à das outras obras de arte.
Mas o que falha a toda esta gente é não perceberem a verdadeira génese do Som Sagrado. Aqui fica ela, revelada numa epifânia que me surgiu entre a leitura do Correio da Manhã e a audição do "Armageddon Death Squad" dos Impaled Nazarene:
Quando os Deuses fizeram o Heavy Metal e viram que era bom, deram o metal ao Homem para que este usufruísse dele. Mas exigiram ao Homem que o homem não tocasse no fruto da árvore da diversidade. "Não misturarás estilos" Disseram os deuses. Mas como o bicho homem tem aquela mania parva de fazer o contrário do que os Deuses lhe mandam, (Adão, Prometeu, Ícaro, ninguém manda neles caralho!) não durou muito tempo que os homens que usavam o metal fossem ao fruto da árvore da criatividade e da diversidade:
"Ora bolas, então se se fez o mesmo com a pintura, escultura, outros estilos musicais, então porque não fazer o mesmo ao metal? Se os Deuses criaram o Metal para nós usarmos quem raio agora são os Deuses para nos dizer como o usar? Não o criassem, olha que foda-se... Estávamos tão bem com o Artur Garcia e o António Calvário..." Terá pensado um dos homens a quem foi oferecido o metal
Eis que então o metal passou a tomar muitas formas e os Deuses zangaram-se e excomungaram aqueles que ousaram blasfemar contra a bondade do metal. Os que permaneceram fiéis e imaculados puderam ficar no Paraíso do Metal Original. Desse dia do Pecado Original os restantes formaram diversas Babilónias do metal por todo o planeta, conspurcando o Som Sagrado. Há hoje muitos habitantes dessas Babilónias que acham que o Metal que ouvem nasceu delas e não conhecem a Verdade sobre o Metal.
Mas o Messias chegará um dia, para salvar a humanidade, e trará cuecas de cabedal.
Hail, brother of metal.
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