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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

2012: um nado morto.

Com a aproximação do  Natal e do fim do ano começam as trocas de e-mail e as postagens nas redes sociais de mensagens e imagens de boas festas. No Natal, os poucos cristãos que por aqui andam, pelo menos aqueles ainda com a coragem de se assumirem quanto tal, ainda vão lembrando os restantes que a época tem essencialmente a ver com a comemoração do nascimento de um tipo judeu que há dois mil anos tinha uma mensagem de paz para a humanidade. Basicamente, o nascimento de um tal tipo judeu que, como ninguém lhe ligou pevide, deixou-se pendurar numa cruz num acto de altruísmo masoquista e morreu pelos pecados daqueles que não os assumiram.

Só que, acto contínuo, a humanidade esteve-se nas tintas, encolheu os ombros e continuou a sua vidinha. O judeu fartou-se, ressuscitou três dias depois e pirou-se para onde veio e nunca mais ninguém ouviu falar de tal criatura. Dos que cá ficaram, aproveitaram-se da estória e pegando num obscuro ritual pagão elevaram  o simbolo do nascimento do judeu masoquista a ritual teísta reciclado que serviu de desculpa para arrastar a humanidade para mil anos de trevas e domínio homicida.

Hei, mas ao menos todos levam um par de meias novo a cada inverno.

Mas chega de exegese alternativa. Como pagão que sou, comemorei o solistício de inverno como deve ser. Com Baco à porrada com Dioníso numa taberna, devidamente representados por duas garrafas de vinho e o meu fìgado.

Para os restantes não cristãos e não pagãos a aldeia global, a simbologia da época queda-se pelas habituais mensagens cibernéticas de festas felizes e próspero ano novo, normalmente ilustradas com bonecada pobremente amanhada em lettering mal desenhado por fracas competências em photoshop. Um dos clichés mais recorrentes é o de Ano Novo, Vida Nova, ou o sempre inovador um "ano cheio de paz e prosperidade". OU então a sempre esperançosa "Que 2012 seja melhor que 2011"

Retenhamo-nos no conceito de ano novo. Um ano que substitui o velho. Um velho que deixa o lugar a um ano novo, que está prestes a nascer. 

Pois bem, esqueçam todos os clichés. 
 
O Ano que aí vem já está morto. 2011 fez o favor de o estrangular no ventre. 2011 foi um pai bêbedo que espancou a mãe e cortou o acesso de oxigénio ao filho. 2012 virou dentro da mãe e enrolou o cordão umbilical à volta do pescoço. Já deixou de receber oxigénio há uns 4 meses e basicamente vai nascer um vegetal ou um atrasado mental. Mais ainda, sendo filho de um calendário cristão não o podemos abortar. 2012 vai crescer com insuficiências físicas e mentais graves e vai agonizar até ao fim da sua vida. Mais ainda, como também não vai usar contraceptivos irá gerar um filho igual. Também não auguro nada de bom para 2013.


Que podemos nós fazer? Nada. A não ser tratá-lo o melhor possível dado a sua condição. Mas a verificar pelo passado, o mais provável é que o deixemos cair de cabeça no alcatrão.

E para aqueles que de sobreaviso criam mensagens como esta:

Well... It's allready fucked up and it's not even born yet bitches.

2012 vai ser o filho vegetal em que ninguém vai poder desligar a máquina.

Deal with it. Medina Carreira style.

Bom ano novo!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Paga impostos e cala-te c*ralho!

Portugal tem a sua quota parte de velhinhos taralhocos. O que em si não tem nenhum problema. O problema surge quando os velhinhos taralhocos são directores de jornais, presidentes de regiões autónomas, ou, neste caso, um dos 25 mais ricos de Portugal.

Américo Amorim, magnata da cortiça e negócios vários, que ainda há um mês chegou ao topo da lista das 25 maiores fortunas deste rectângulo de calhaus e arbustos à beira atlântico plantado, com a bonita soma de 2.587,2 milhões de euros, "não se considera rico, apenas um trabalhador."

Esta resposta foi dada no contexto dos milionário franceses, e a seguir à sugestão de Warren Buffet, se oferecerem também eles a pagar uma sobretaxa de imposto, de modo a suprimir alguma da desigualdade entre classes.

Américo Amorim disse peremptoriamente ao jornalista do Jornal de Negócios:

"Eu não me considero rico", afirmou Américo Amorim ao Negócios. "Sou trabalhador", contrapôs. E pronto, conversa acabada. Para a matéria em apreço, o cognominado "rei" da cortiça garante que não passa de um simples assalariado."

Ora independentemente da latente hipocrisia, ou não, de Warren Buffett ou do acto de prevenção de culpa e lavar a água do capote dos empresários franceses, o que está em causa nas declarações de Amorim, e até mesmo o modo como as profere em tom definitivo para terminar o assunto, é um sintoma muito português, fruto de um contexto cultural muito específico.

As declarações de Amorim não são mais do que um paternalismo corporativista que o Salazar impôs às elites nas lides com a populaça. E como se pode ver pelo exemplo, está mais forte do que nunca. "Eu sou um um modesto trabalhador..." é o voltar àquela altura em que o importante era trabalhar e calar e não vir com ideias parvas. Amorim acredita piamente que se está onde está é porque trabalha para isso. Está a esquecer-se que não é ele que trabalha. São os seus assalariados. E foi á custa da exploração desses assalariados e de negócios obscuros na cortiça que Amorim hoje é "um mero trabalhador" com uma fortuna de mais de dois mil milhões de euros. Numa república bolchevique lusitana o Amorim era o segundo na fila para o fuzilamento colectivo na Praça do Comércio, logo a seguir ao Luís Delgado...

Amorim não é rico. Pois bem, não vamos perder tempo a debater os limite e a sua aplicação ao conceito de riqueza e de onde e para onde eles se alargam. Comparado com Warren Buffett não será rico, será desenrascado. Mas Amorim não vive nos estados Unidos, vive em Portugal. E se é um mero trabalhador então é igual a nós. E eu, que sou um mero trabalhador vou ver o meu subsídio de Natal cortado a metade. Gostava de ver o subsídio de natal cortado a metade também ao Amorim. 

Por isso Amorim, paga e cala-te c*ralho...






terça-feira, 26 de julho de 2011

Conversas Surreais

O estado do país reflecte-se nestes pequenos fait divers quotidianos:

Toca o telefone:
*triiiimmm*

EU: - Estou sim, Apoiar boa tarde, fala Humberto Silva

GAJO DO OUTRO LADO: Olá boa tarde, fala de uma oficina. É a primeira vez que estou a trabalhar com vocês, e tenho aqui um sinistro...

 EU: - Provavelmente é engano, fala de uma associação...

GDOL: É que quero falar para uma seguradora, tenho aqui um sinistro

EU: - Certo - de boa fé - deve querer falar para os Seguros da Crédito Agrícola - com experiência de enganos anteriores.- É que esse número que aí tem não é da CA

GDOL: Mas é o número que tenho aqui, portanto quero participar um sinistro.

EU: Pois, mas não é esse, não fala da CA, fala de uma associação

GDOL: Então se calhar é convosco que tenho de falar...

EU: - Não, qual é a seguradora que aí tem?

GDOL: (rebusca papéis) Caixa de Crédito Agricola Seguros e tem este número

EU: Pois... Mas o número está errado. Não é dessa seguradora, está a ligar para uma associação...

GDOL: Mas é o número que tenho aqui, que é que eu faço agora.

EU: Tem de procurar o contacto certo... (duh...)

GDOL: Mas é este o número que tenho aqui. E agora tenho de participar este sinistro. olhe que quem se prejudica é o cliente

EU: Pois... mas como lhe disse não fala da seguradora. Nós não sabemos do que fala nem temos a ver com isso.


GDOL: Mas é o número que tenho aqui

EU: (perdendo a paciência, não os podes vencer, junta-te a eles) Oiça, mas o que quer afinal. Quer falar com o meu supervisor, é?

GDOL: Sim, passe ao seu supervisor se faz favor...

(...)

Há muito a dizer de um país onde mais facilmente se acredita que se está a ser enganado por um operador de call center do que por uma gralha tipográfica...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Coisas a fazer se ganhasse o euromilhões

Esta semana o Euromilhões saiu a um gajo qualquer que não a mim. Depois de angustiar sobre a razão dessa tragédia decobri que não saiu porque não joguei.

Ora se jogasse e me saíssem 185 milhões de euros eis uma lista de coisas que faria:

  • Comprava veados à Câmara Municipal da Nazaré
  • Comprava a Moodys e avaliava carne de veado
  • Mandava alcatifar Portugal (props ao Manuel João Vieira)
  • Fechava o país para balanço
  • Nas partes não alcatifadas plantava uva e medronho
  • Criava uma indústria de alambiques de exportação de bagaço para um qualquer país da América do Sul
  • Pagava a um pequeno exército de mercenários para invadir esse país
  • Fazia lá uma criação de veados
  • Vendia os veados à Câmara da Nazaré
Ainda me sobravam uns trocos para uns caracóis e imperial

P.S. Este Verão tem sido anormalmente frio. Algo se avizinha. Vou perguntar ao Medina Carreira

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Esquizofrenia e consumo

Ainda a propósito deste artigo atrasado mental do António José saraiva no Sol, há uma coisa que me faz impressão.
 O que eu acho piada é toda a minha gente vir bradar por uma austeridade soviética numa economia de mercado capitalista.

"Não gastem em coisas supérfluas..."

Amigos, toda a economia de mercado baseia-se em coisas supérfluas. sem coisas supérfluas não há economia de mercado, há comunismo.

Sem telemóveis, playstations, automóveis novos de 5 em 5 anos, 17 lojas de roupa para vender 35 versões de uma saia em 9 tecidos diferentes, não há economia de mercado.

Sem economia de mercado não há pequenas e médias empresas de sabonetes de 23 cheiros, nem molduras maricas para fotografias de férias tiradas por 24 máquinas fotográficas de 18 marcas diferentes com 180 resoluções diferentes guardadas em 130 tipos de computadores com 45 tipos de chipsets diferentes para 3 sistemas operativos. Não há jogos de computador, bicicletas, material de desporto, internet, restaurantes com 1900 maneiras de cozinhar bacalhau regadas a 90 tipo de vinho tinto.


A esquizofrenia autofágica dos princípios liberais levaram-nos à autodestruição e agora clamam por austeridade? Por contracção do consumo?

Querem o quê? Pão, água e cuidados de saúde básico? Querem Cuba? Agora uma austeridade cubana e soviética já parece bem?

Vão-se f*der todos, a sério...