Páginas

sexta-feira, 9 de maio de 2008

A Teoria do Caos e o Apocalipse

A teoria do caos trazida até ao quotidiano.

A Teoria do Caos é um aldrabice inventada por um matemático que não leu Heidegger e sem saber o que fazer ao tédio decidiu que qualquer acontecimento no planeta pode influenciar outro exponencialmente. Ou seja, se uma borboleta bate as asas no Pragal acontece um ciclone no Arkansas (e o comboio da Fertagus chega atrasado a Coina). Basicamente é a extrapolação de algumas implicações da teoria do determinismo Leibniziano, elevada à matemática pura (coisa que o Gottfried despacha num parágrafo do Discurso da Metafísica com César e o Rubicão).

No entanto uma cadeia de pequenos eventos que me têm estado a acontecer desde manhã levam-me a ponderar acerca dos efeitos exponenciais destas, à partida insignificantes, alterações à rotina.

O quotidiano é formatado por horários que são mais ou menos cumpridos à risca pela massa humana. Esse enformamento cronológico leva a repetições que se transformam em padrões reconhecíveis ao fim de determinado período. Ou seja, se determinado grupo de pessoas entra à mesma hora no emprego, apanhará o mesmo comboio. Se sai na mesma estação, tenderá a ficar na mesma carruagem, se se dirige à mesma saída ficará ao pé da mesma porta. Nestes padrões conseguimos cabimentar hábitos e há pessoas que ao fim de uns meses, a conviver diariamente com essa rotina, passamos a reconhecer.

É por isso que todos os dias vemos na carruagem, num pastiche às descrições do Saramago, "O tipo de óculos escuros que dorme de boca aberta no banco da frente", a "Estudante loira engraçadinha de óculos vermelhos que ouve música num NOKIA N70", "o casal de fato em que a mulher engordou como uma vaca", etc, etc.

Para além da decoração de gosto duvidoso das estações de comboio e da vista do rio, da ponte, são estes hábitos quotidianos enformados de pessoas que fazem parte da nossa paisagem diária. Ao fim de um ano habituamo-nos a levá-las como certas e constantes...

Até um dia.

Hoje, ao fim de treze meses, o tipo de óculos escuros que se esparramava no banco da frente a dormir, vinha a ler. A loirinha, que usava sempre o cabelo solto, vinha de rabo de cavalo. A empregada do quiosque onde compro o jornal hoje não trazia soutien e notavam-se os mamilos no top branco.

Esta alteração de eventos, se se confirmar a teoria do caos, estará a causar um efeito borboleta pelo globo fora, crescendo exponencialmente a todas as condições de possibilidade de eventos, trágicos ou não.

São apenas 10 da manhã. Se chegar à hora de jantar e o Ribau Esteves estiver numa conferência de imprensa do PSD de calças de ganga em vez daqueles fatos de poliéster comprados nos ciganos que ele costuma usar, temo que amanhã chovam gafanhotos e os rios se encham de sangue...

Bem hajam.

3 comentários:

  1. Pá, estás errado. As alterações funcionam na mesma esfera, elevada exponencialmente (bater das asas de uma borboleta no Pragal -> deslocação de ar -> ciclone Nargis em Myanmar). Não funcionam em esferas diferentes. O tipo de óculos escuros que vinha a ler e a loira que agora tem rabo de cavalo não têm interferência nenhuma no Ribau. Os primeiros são humanos, o último não é.

    QED.

    ResponderEliminar

Estou-me nas tintas para a tua opinião...