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terça-feira, 8 de julho de 2008

URBAN LEGENDS - Os Grandes Mitos Nacionais: D. Sebastião

D. Sebastião é de certeza o grande mito português. É o mito da salvação lusitana, o nosso Jesus Cristo privativo, aquele que morreu pela nossa pátria a defender a cristandade. Logo, é muito mais do que um mito urbano, é um mito nacional.

No entanto basta olhar para o mapa da densidade populacional de de Portugal e ver que metade da população vive nas áreas metropolitanas do grande Porto e da grande Lisboa e a outra metade se distribui dois terços por Braga, Coimbra, Aveiro, Setúbal e Algarve sendo que o último terço é que resiste estoicamente num interior rural envelhecido, esquecido e desertificado. Conseguimos perceber então que, juntamente com as pessoas que o carregam no imaginário, o mito de D. Sebastião é, estatisticamente, um mito urbano. Chegado o Outono, a época das chuvas, das depressões, das melancolias regressa ao nosso subconsciente de Português, no sentido mais pessoano do adjectivo, o secreto desejo de, numa manhã de nevoeiro, aparecer envolto em bruma a figura de D. Sebastião montada no seu cavalo branco, de regresso da batalha de Alcácer Quibir e trazendo consigo a boa nova do Quinto Império e a glória a um povo que já soube o que foi governar metade do mundo e agora está refém de ministros "jamais" (com pronúncia francesa) e primeiros ministros que compram licenciaturas a. troco de casas de emigras em Mafamude (ou o c*ralho que o f*da)..

Ou então não.

Muitas vezes esquecemos, enebriados pela magia do mito e de todo o mistério e poesia que a ideia do retorno de um glorioso rei antigo acarreta, que D. Sebastião era um puto ruivo de 14 anos com metro e meio de altura e com uma deficiência no lábio quando foi coroado rei à pressa porque o pai morreu-lhe quando nasceu.
Em segundo lugar, esquecemo-nos de indagar, se D. Sebastião voltasse hoje, onde apareceria?

Tendo em conta que foi para África numa senda tresloucada anti-islâmica, imaginemos que D. Sebastião aparecia numa manhã de nevoeiro ali para os lados do Martim Moniz. De repente, vindo do nada, aparecia um gajo de armadura a cavalo com uma espada na mão a berrar "Venham cá, filhos da puta que vos acabo com a raça infiel!!" e desatava a varrer à espadeirada todos os indianos, muçulmanos e demais africanos que param pela conhecida praça lisboeta.

Talvez consiga imaginar um monhé a aproximar-se de D. Sebastião com um ramo de rosas e um molho de Pikachús a piscar: "Olá... Quér frô?", ao que D. Sebastião responderia com um pronto golpe de espada e arrancava a cabeça ao pobre Rashid, acabando a cena como está exposta na Catedral de Santiago de Compostela, na Galiza, onde uma escultura retrata S. Tiago em pose triunfal no seu caval a espezinhar corpos retalhados de muçulmanos.

E depois era uma chatice, tinha que vir o Serviço de Intervenção Rápida da PSP, a Judiciária, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras ( Sim, para além de D. Sebastião que entrou ilegal com um cavalo no país ainda temos que fazer um levantamento dos mortos para saber quantos estavam legalizados ) e levar o D. Sebastião para a esquadra - isso é lá maneira de tratar um salvador da pátria - onde, se não o confundissem com um filho há muito perdido do Jorge Sampaio, decerto seria recrutado pela CIA para ser mandado para o Afeganistão achar o Bin Laden.

Resta-nos fazer como os Judeus e ir batendo com a cabeça nas paredes do nosso muro das lamentações ( para a maioria de nós é o Novo Estádio da Luz ) à espera que apareça para aí um novo messias, dos que não retalhem pessoas ou que não convoquem Luís Filipe para lateral direito.

Bem hajam...

4 comentários:

Estou-me nas tintas para a tua opinião...