D. Sebastião é de certeza o grande mito português. É o mito da salvação lusitana, o nosso Jesus Cristo privativo, aquele que morreu pela nossa pátria a defender a cristandade. Logo, é muito mais do que um mito urbano, é um mito nacional.
No entanto basta olhar para o mapa da densidade populacional de de Portugal e ver que metade da população vive nas áreas metropolitanas do grande Porto e da grande Lisboa e a outra metade se distribui dois terços por Braga, Coimbra, Aveiro, Setúbal e Algarve sendo que o último terço é que resiste estoicamente num interior rural envelhecido, esquecido e desertificado. Conseguimos perceber então que, juntamente com as pessoas que o carregam no imaginário, o mito de D. Sebastião é, estatisticamente, um mito urbano. Chegado o Outono, a época das chuvas, das depressões, das melancolias regressa ao nosso subconsciente de Português, no sentido mais pessoano do adjectivo, o secreto desejo de, numa manhã de nevoeiro, aparecer envolto em bruma a figura de D. Sebastião montada no seu cavalo branco, de regresso da batalha de Alcácer Quibir e trazendo consigo a boa nova do Quinto Império e a glória a um povo que já soube o que foi governar metade do mundo e agora está refém de ministros "jamais" (com pronúncia francesa) e primeiros ministros que compram licenciaturas a. troco de casas de emigras em Mafamude (ou o c*ralho que o f*da)..
Ou então não.
Muitas vezes esquecemos, enebriados pela magia do mito e de todo o mistério e poesia que a ideia do retorno de um glorioso rei antigo acarreta, que D. Sebastião era um puto ruivo de 14 anos com metro e meio de altura e com uma deficiência no lábio quando foi coroado rei à pressa porque o pai morreu-lhe quando nasceu.
Em segundo lugar, esquecemo-nos de indagar, se D. Sebastião voltasse hoje, onde apareceria?
Tendo em conta que foi para África numa senda tresloucada anti-islâmica, imaginemos que D. Sebastião aparecia numa manhã de nevoeiro ali para os lados do Martim Moniz. De repente, vindo do nada, aparecia um gajo de armadura a cavalo com uma espada na mão a berrar "Venham cá, filhos da puta que vos acabo com a raça infiel!!" e desatava a varrer à espadeirada todos os indianos, muçulmanos e demais africanos que param pela conhecida praça lisboeta.
Talvez consiga imaginar um monhé a aproximar-se de D. Sebastião com um ramo de rosas e um molho de Pikachús a piscar: "Olá... Quér frô?", ao que D. Sebastião responderia com um pronto golpe de espada e arrancava a cabeça ao pobre Rashid, acabando a cena como está exposta na Catedral de Santiago de Compostela, na Galiza, onde uma escultura retrata S. Tiago em pose triunfal no seu caval a espezinhar corpos retalhados de muçulmanos.
E depois era uma chatice, tinha que vir o Serviço de Intervenção Rápida da PSP, a Judiciária, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras ( Sim, para além de D. Sebastião que entrou ilegal com um cavalo no país ainda temos que fazer um levantamento dos mortos para saber quantos estavam legalizados ) e levar o D. Sebastião para a esquadra - isso é lá maneira de tratar um salvador da pátria - onde, se não o confundissem com um filho há muito perdido do Jorge Sampaio, decerto seria recrutado pela CIA para ser mandado para o Afeganistão achar o Bin Laden.
Resta-nos fazer como os Judeus e ir batendo com a cabeça nas paredes do nosso muro das lamentações ( para a maioria de nós é o Novo Estádio da Luz ) à espera que apareça para aí um novo messias, dos que não retalhem pessoas ou que não convoquem Luís Filipe para lateral direito.
Bem hajam...
Brilhante!!!
ResponderEliminarDei umas gargalhadas valentes ao imaginar toda esta "panóplia" de acontecimentos!!! Muito bom!
ResponderEliminarGenial!, no teu melhor!
ResponderEliminarum beijo
Ana Martins
:) Está porreiro, pá!
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