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quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Leituras de Merda

Gosto de ler. Sempre gostei de ler quando era pequenino e lembra-me que as primeiras letras que juntei conscientemente foram as do POP, detergente para a loiça, num supermercado que havia na minha rua, quando com quatro anos peguei na embalagem e li assim: "P-O-P, Pop..." Desde aí que leio muito. Estou tão agarrado à leitura que não saio à rua sem um livro, nem que seja só para ler uma página. A leitura entrou de tal modo nos meus hábitos quotidianos que não consigo ir à casa de banho sem levar alguma coisa atrás para ler. É quase automático o gesto. Volta na tripa/mão a agarrar algo com letras legíveis. O vício começou com os rótulos do shampoos e gel de banho de tal sorte que agora já não sou capaz de me sentar sem ter nada para ler. E se isso acontece toca de reler os ingredientes activos do shampoo anti-caspa.Ora isto já está tão automatizado que entretanto já descobri que há leituras que resultam melhor na casa de banho do que outras. Senão vejamos.

O Correio da Manhã é um must. A minha leitura de casa de banho é por excelência esse pasquim diário. Eu acho que nenhuma rotina intestinal regular fica completa sem uma boa dieta de fibras e a leitura diária do Correio da Manhã.
No segundo lugar do top de leituras de casa de banho ficam os catálogos e folhetos de supermercado. Claramente à frente estão os folhetos do Continente. O catálogo do Continente é perfeito. Com as páginas enormes quando damos por nós está o serviço feito. O do LIDL desde que optou pelo formato de jornal de fait-divers perdeu terreno para o catálogo do Continente que continua destacado com leitura de casa de banho. Os catálogos do Intermarché e do Pão de Açúcar são fracos no que toca a este ramo mas de vez em quando conseguem-se impor quando emitem catálogos temáticos nomeadamente na altura do regresso à escola e promoções de Primavera. A Vobis tem um catálogo mais elitista e de qualidade superior mas a sua regularidade editorial mais espaçada não se coaduna com a regularidade de um hábito corporal diário ou quase diário. No entanto, quando chega à caixa do correio, tem o seu lugar reservado no banquinhO ao lado da sanita.
Uma boa escolha para leituras de casa de banho é, se se der o caso de ter uma em casa, são as revistas de curiosidades científicas do género Quo ou Super Interessante. São quase perfeitas mas normalmente cada número só dá para duas ou três idas à casa de banho e como são mensais acabam por ficar para trás neste top.
Já dentro das leituras de ocasião descobri que a literatura e a filosofia são más escolhas. São leituras demasiado contemplativas e não raras vezes acontece ficar perdido na leitura de algum livro e dar por mim com o rabo enregelado e as pernas dormentes. No entanto ainda se aguenta uma boa leitura de casa de banho com alguns filósofos analíticos. Karl Popper é uma boa escolha ou então Peter Singer. Já Descartes é perfeito para ira à casa de banho. Autores de carácter aforístico são sempre boas escolhas. Como são pequenas frases cabem bem nesta categoria. Nietzsche não é no entanto uma boa escolha. Pascal dá para ler mas apenas os fragmentos de carácter mais religioso. Goethe vai bem.
Por sua vez Paul Valéry está completamente fora de questão. É absolutamente desaconselhável ler Paul Valery na casa de banho. Assim como Ionesco ou Beckett.
Em casos em que acontece não ter o Correio da Manhã à mão sempre se podem ler os artigos de opinião do Público ou do Diário de Notícias. Fernando Rosas e Eduardo prado Coelho calham sempre bem. O 24Horas é talvez para gostos de casa de banho um pouco menos sensíveis. Assim como um Queijo da Ilha está para um queijo fresco. É bom mas não é sempre.
Em casos desesperados sempre posso ir ao arquivo de revistas do Expresso e do Independente que tenho aqui guardadas já vai para quinze anos e os artigos de opinião do Paulo Portas ou reportagens de fundo sobre o Cavaco Silva quando era primeiro ministro são sempre das mais refinadas leituras de casa de banho. Mas evito fazê-lo ao máximo. Literatura vintage desta estirpe precisa de ser preservada com o maior cuidado.

7 comentários:

  1. Só tu para me fazeres rir desta maneira! Ri-me mesmo á séria com este teu "post" sobre algumas "leituras de m****", mas olha vou aproveitar a "dica" para ver se ponho a minha prisão de ventre a milhas!!!

    P.S. Mas descobri outra coisa é que gostas também bastante de escrever... :)

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  2. Mia Couto é o melhor que podes levar. Só te apetece sair rápido dali ^^.

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  3. Porra! Agora é que reparei que já alteraste isto para o José Cid. Prometo ter mais cuidado com o que escrevo!!! :-)

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  4. Não gosto de ler coisas enquanto evacuo. Não sei, talvez tenha receio de uma overdose de merda, sei lá.

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  5. Só uma adenda: o Eduardo Prado Coelho já morreu, pá! Ou tu guardaste os artigos dele, aos quais recorres sempre que queres fazer uma visita ao W.C.?

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  6. No meu Top 5 de criticas literárias chegou-me um dia numa sessão de autógrafos uma leitora, corada, que confessou baixinho ter lido o meu livro inteirinho do de uma assentada só (literalmente) na sanita, porque era tão bom que não conseguiu parar de ler. No dia seguinte, tinha marcas nas nádegas, desculpando-se pelo inusitado acto, por ser mãe de duas pestinhas gémeas. Ora eu, a senhora escritora mantive a compostura por pouco tempo, porque me matei a rir e confessei-lhe – caramba, mereci-a ouvi-lo! – era a melhor crítica literária que me faziam nos últimos tempos. Ainda permanece no meu Top.
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  7. Só outra adenda: depois de ler o PORRA da menina Ilda, já entendo o porquê do José Cid! Boa malha!!!
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Estou-me nas tintas para a tua opinião...