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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

A expressão em liberdade.

Há muitos equívocos, muito histerismo, muito julgamento prévio, muita reacção acerca do que aconteceu ontem, numa amálgama de informação e opinião que só as redes sociais toraram possível.

Há vários pontos aqui. O primeiro a salvaguardar é que a barbárie de ontem não se compara à barbárie da desproporcionalidade dos ataques israelitas a Gaza que fizeram uma contagem de mortos criminosamente desproporcional. 2154 palestinianos, dos quais 352 foram crianças contra 68 israelitas, a maior parte soldados, nenhuma criança.

Numa matemática pura a morte de 352 crianças é infinitamente mais bárbaro do que a morte de uns quantos velhos brancos que fazem bonecos num 
arrondissement de boa vizinhança em Paris..

A fronteira e a diferença entre estas duas situações será caso para ser discutida ad infinitum pelos especialistas de rede social enquanto comem um donut em frente ao PC ou defendem a sua causa num qualquer portátil Apple.


A outra questão que se coloca com o que aconteceu ontem. O atentado à liberdade de expressão.


Para muitos o Charlie Hebdo era um jornal racista, xenófobo, misógeno. Era também tudo isso sim. E outros defendem que cartoonismo não é jornalismo. de facto não é. Nem foi propriamente um atentado á liberdade de imprensa como o é o rapto a decapitação de jornalistas na Síria. Não tem a ver com isso. tem a ver com a liberdade de expressão. Os cartoons do Charlie Hebdo ofendiam? Sim, eram xenófobos? Muitos, sim. Mas defender o direito á liberdade de expressão na nossa sociedade tem a ver com isto:

É defender o direito a poder esticar a liberdade de expressão a limites para além do razoável e deixar a sociedade decidir em sede prórpia e entre si quais os limites do razoável.

O direito a ser-se uma besta, um filho da puta ofensivo, xenófobo, misógino e a ser-se julgado e criticado pelos próprios pares, sociedade e tribunais de um estado de direito, e não por uma bala.
É uma expressão e é feita em liberdade. Posteriormente, e dentro das regras definidas pela sociedade é que se julgará se foi ou não um abuso da liberdade de expressão. 

Eu tenho a liberdade de chamar filho da puta ao Cavaco, ele tem a liberdade de se ofender e processar-me, mas nunca de me impedir de o chamar filho da puta. Muito menos de enviar um comando armado para me matar.

Enquanto não se perceber isso não se perceberá o que aconteceu ontem e o que se diz hoje.


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